QuintoAndar define prioridades e inicia expansão regional com operação no México

Estreia de plataforma digital de aluguel com a marca Benvi evidencia busca por novos mercados, dois meses após corte de 160 empregados no Brasil

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Bloomberg Línea — O mercado de startups na América Latina atravessa um momento de redefinição de prioridades com a virada das condições e a redução do capital disponível para o crescimento. Para o QuintoAndar, uma das startups mais valiosas da região, é momento de apostar no plano de expansão regional e global: a empresa passa a operar no México com a marca Benvi, o seu segundo mercado além do brasileiro.

“É um passo representativo da nossa trajetória por causa de características do mercado de imóveis, como o fato de que são ativos físicos que exigem presença local e porque há diferenças regulatórias importantes. Por essas razões, não há tantas proptechs [startups dedicadas ao setor] que atuam em diferentes países”, disse Gabriel Braga, CEO e cofundador do QuintoAndar, em entrevista à Bloomberg Línea.

O começo da operação da plataforma de aluguel acontece dois meses depois de um corte de cerca de 160 profissionais no Brasil, equivalente a 4% do quadro de funcionários, atribuída a uma reestruturação e uma priorização de áreas, uma das quais justamente a expansão para novos mercados.

“Há uma busca por eficiência da operação e de priorização do que queremos fazer no futuro. São ajustes [os cortes] que fazemos de tempos em tempos”, disse Braga. Segundo ele, apesar da desaceleração da economia brasileira e do segmento de imóveis, a startup tem conseguido ganhar market share (participação de mercado) nas suas frentes de atuação no país, como aluguel, compra e venda, garantia locatícia e financiamento imobiliário, e superar as metas tanto de receitas como de resultado final.

A entrada no México - segundo maior mercado da América Latina - se dará inicialmente pela capital, a Cidade do México. O plano havia sido originalmente anunciado em agosto, por ocasião da extensão da rodada Série E que elevou o valuation da startup para US$ 5,1 bilhões. A marca Benvi será utilizada em outros mercados externos, possivelmente também latino-americanos.

“É um mercado grande [o mexicano], mas que apresenta ainda muitas dificuldades para quem quer alugar um imóvel. As informações sobre os imóveis estão fragmentadas, há perdas com inadimplência que não são cobertas e o estágio de digitalização dos processos está ainda começando a crescer”, disse o CEO, citando estudos que foram realizados ao longo do último ano antes da decisão de entrada no país.

A Benvi enfrentará a concorrência de startups locais dedicadas ao mesmo fim de reduzir as dificuldades na experiência do aluguel, como a Homie, que já recebeu até aporte do bilionário americano Sam Zell.

Segundo a startup, o mercado mexicano conta com cerca de 35 milhões de imóveis residenciais, dos quais 6 milhões alugados (perto de 20% do total). No Brasil, o QuintoAndar lidera o mercado de aluguel com mais de 175 mil contratos vigentes e mais de R$ 90 bilhões em ativos sob gestão em 75 cidades.

O QuintoAndar vai oferecer no mercado mexicano suas principais soluções disponíveis no Brasil, como a dispensa de fiador para quem aluga um imóvel, acesso a crédito e jornada digitalizada pelo app ou pelo site; do lado do proprietário, garantia de recebimento em caso de atraso de pagamento do inquilino.

A operação no México, cujos investimento e tamanho de equipe local inicial não foram revelados, será liderada pelo empreendedor Nicolás Tejerina, cofundador e CEO do Grupo Navent, um dos maiores em portais de classificados na América Latina, adquirido pelo QuintoAndar no fim do ano passado.

A Navent é dona no México do portal Inmuebles24, que continuará a operar de forma independente, mas que passará a dispor dos imóveis para aluguel da plataforma do QuintoAndar em seu portal.

O movimento feito pelo QuintoAndar é semelhante ao de outras startups em estágio de desenvolvimento mais avançado, como a mexicana Kavak, a mais valiosa da América Latina, de mais de US$ 8 bilhões. A empresa que opera um marketplace de carros usados fez a sua estreia no mercado brasileiro no ano passado e passou a operar no Rio de Janeiro no começo deste ano. No início deste mês, no entanto, ela realizou um corte de cerca de 50 pessoas no país, segundo depoimentos à Bloomberg Línea.

A busca por eficiência também tem sido um denominador comum entre as grandes startups da região. A Loft, outra das grandes startups dedicadas ao mercado de imóveis, acaba de anunciar uma reestruturação e a nomeação de um executivo com a “cultura Ambev” - de fazer mais com menos, redução de gastos, desenvolvimento de talentos internamente etc. -, Marcel Regis, para liderar a sua operação.

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