Queridinho da Faria Lima, grupo do Nino terá 17 novas casas após aporte da XP

Rede Alife Nino, dona do Nino Cucina, espera crescer 50% em 2022 após receber R$ 100 mi de fundo, mira expansão nacional e negocia fusão

Do mercado financeiro para a missão de empreender
21 de mayo, 2022 | 06:18 AM

Bloomberg Línea — Em um começo de tarde de segunda-feira, a calçada na altura do número 30 da rua Jerônimo da Veiga, no Itaim Bibi, em São Paulo, está tomada por homens engravatados em frente a uma scooter verde clara estrategicamente posicionada na frente do Nino Cucina. O restaurante italiano que é queridinho dos profissionais do mercado financeiro simboliza uma Faria Lima que superou os tempos difíceis da pandemia para os negócios.

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O grupo Alife Nino, que tem 31 estabelecimentos em pouco mais de dez anos - alguns ocupam praticamente um quarteirão inteiro da rua Jerônimo da Veiga -, recebeu em 2021 num aporte de R$ 100 milhões de um fundo de private equity da XP, que adquiriu participação societária.

“O Chu está aí fora. Ele almoça direto aqui”, comenta Alessandro Ávila, em entrevista à Bloomberg Línea. Ávila é CEO do grupo e se refere a Chu Kong, head do fundo que investiu no grupo. Com o aporte veio também o plano de abrir capital na bolsa de valores “nos próximos 3 a 5 anos”, afirma.

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De poucas palavras mas animado com a conversa, Ávila prefere falar sobre os grandes planos de expansão do grupo para 2022, depois de dois anos difíceis sob efeito do coronavírus. “A pandemia foi horrorosa” diz, sem titubear. Mas isso não significa que o grupo teve que reduzir os negócios. Ele conta que o grupo não fez nenhuma demissão no período e que, com um caixa robusto, conseguiu equilibrar as contas. Acabou dispensando somente funcionários em período de experiência.

Na pandemia, o grupo inaugurou o serviço de delivery nos restaurantes da rede, que hoje representa 5% da receita mensal do grupo e 15% do faturamento do Nino, segundo Ávila.

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No período mais difícil da pandemia, o faturamento do grupo caiu pelo menos 50%. Mas uma estratégia ousada de expansão acabou surtindo efeito. “Ao longo da pandemia abrimos novas operações. Com isso, o faturamento de 2021 acabou sendo igual ao de 2019, no pré-pandemia”, diz.

“Sentimos as pessoas gastando mais e querendo gastar mais. Nosso ticket médio aumentou 10% desde então: é agora uma média de R$ 180 nos restaurantes e de R$ 100 nos bares”, conta.

Salão principal do Nino Cucina, no Itaim Bibi, em São Paulo

Os planos para este ano também são ousados. Ao todo, estão previstos 17 novos estabelecimentos, entre bares e restaurantes espalhados pelo Brasil. Entre os próximos destinos, Ávila cita Salvador, Fortaleza, Recife, Brasília, Goiás, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte.

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“Com as novas aberturas, prevemos um faturamento de R$ 350 milhões em 2022 e de R$ 550 milhões no ano que vem”, diz.

Dos derivativos para a gastronomia

Ávila trabalhou por sete anos e três meses como trader de derivativos no Merrill Lynch, em Nova York. A migração para o setor de bares e restaurantes veio por meio de um convite de um amigo de infância, um dos sócios-fundadores da rede. No começo em 2010, conta Ávila, eram 40 pequenos investidores - todos amigos. Hoje, dos 40, sobraram 15. “Outros sócios entraram e a XP também, em 2021″, diz.

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A captação inicial foi de R$10 milhões, entre o grupo de investidores. “Ao longo dos anos investimos em muitas coisas. Já tivemos hamburgueria e empreendimentos fora de São Paulo”, conta. Mas a virada de chave veio mesmo com o lançamento do Nino, em agosto de 2015.

“Começamos no Itaim. Estamos muito presentes aqui, sempre estivemos, é muito representativo. Para mim a Faria Lima é o coração do Brasil. Não só o financeiro mas no que diz respeito a ditar tendências”, diz.

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Questionado sobre se sente falta de trabalhar no mercado financeiro, Ávila prontamente responde com um sonoro “não”.

“Tem um lado muito bom e outro muito ruim, mas sair do mercado financeiro para ser empreendedor é uma diferença enorme. Para ganhar o que você consegue no mercado financeiro, porém fora dele, é preciso muitos anos de empreendedorismo. Mas no final vale a pena”.

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Junto com o aporte da XP, em outubro de 2021, veio também a fusão com o Alife Group, o que também permitiu uma expansão significativa de marcas para o grupo.

Ao todo, são 15 marcas e 31 estabelecimentos em funcionamento: entre os quais os bares Tatu Bola, Eu Tu Eles, Boteco Boa Praça, Porto Luna e Toca do Tatu e os restaurantes Nino Cucina, carro-chefe da operação, Da Marino, Giulietta, Peppino Cantina, Forno da Pino, Madame Suzette, Vito, Aquiles, Ninetto e o delivery Nino Casa Tua.

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O grupo tem hoje 850 funcionários, mas o plano é chegar a 1.300 até o fim do ano, justamente em razão das aberturas das novas casas. Mas há também motivos para preocupação. Um dos maiores desafios ao plano de expansão é o valor dos alugueis, que, segundo Ávila, chega a R$ 1 milhão. “Esse custo é bem relevante e também um problema enorme para todo o segmento”, diz.

Uma curiosidade é que a maioria dos restaurantes possui salas privativas. Ávila diz que são reservadas por clientes que buscam mais privacidade para reuniões, encontros ou simplesmente uma refeição “fora dos holofotes”. “Temos um público cativo de políticos também”, conta, mas sem mencionar o nome de qualquer um deles.

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Fusão com ‘gente conhecida’

Diante de uma inflação crescente e que pegou em cheio o preço dos alimentos, o CEO do grupo conta como tem feito para driblar os altos custos e um momento particularmente delicado para a economia. A inflação ao consumidor medida pelo IPCA chegou a 12,13% no acumulado em 12 meses até abril, segundo o IBGE.

No "quadrilátero" do Nino está também o Aquiles, restaurante de cozinha mediterrânea

Ávila diz que o grupo deixou de reajustar seus preços por cerca de dois anos, mas o limite veio há pouco. “Sempre somos os últimos a aumentar. Subimos os preços quando nossas margens ficam abaixo de um determinado nível”, explica.

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O empresário também cita a dificuldade de encontrar mão-de-obra qualificada, mas, por outro lado, pondera que “em nenhum cenário as pessoas vão deixar de comer” e que o grupo sentiu mais os impactos econômicos durante a gestão do governo Dilma (de 2011 a 2016). “Nossa expectativa é muito boa. Queremos crescer de 30% a 40% ao ano nos próximos anos e não teremos grandes problemas para isso. Vemos espaço para nossas marcas crescerem pelo Brasil.”

Ávila diz que “todo o investimento já foi feito” e que o grupo é bastante sólido financeiramente e que “felizmente não precisamos de dinheiro”. Ao fim do encontro, o CEO do grupo Alife Nino deixa um tom de mistério no ar ao afirmar que “possivelmente nos próximos meses uma fusão com gente conhecida pode ser anunciada”.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.

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