Porto no Espírito Santo quer mudar rota da exportação de soja

Terminal de grãos do grupo Imetame em Aracruz deve entrar em operação em 2025, com investimentos de R$ 3 bilhões

Construção de novo porto no Espírito Santo pode alterar a logística de exportação da soja brasileira
20 de mayo, 2022 | 07:02 AM

Bloomberg Línea — A capacidade de receber navios maiores para transportar a soja do Brasil até a China em condições mais competitivas de custos foi um dos principais motivos que levou exportadores a transferir os embarques de Paranaguá, no Paraná, para o porto de Santos, no litoral paulista. Pouco mais de 20 anos depois da migração que alterou a rota logística do agronegócio do país, uma nova mudança no escoamento da soja está perto de acontecer, seguindo uma estratégia muito semelhante.

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Em Aracruz, no Espírito Santo, o grupo capixaba Imetame está construindo um porto apto a receber embarcações conhecidas como Capesize, com capacidade para transportar mais carga do que os famosos Panamax. Enquanto os navios que passam pelo canal panamenho transportam até 75 mil toneladas, o modelo maior suporta até 150 mil toneladas.

Desde o ano passado, a empresa já investiu cerca de R$ 200 milhões no projeto, que receberá um total de R$ 3 bilhões em sua primeira fase, que inclui, além do terminal de cargas, um terminal de contêineres. A área de contêineres, aliás, entrará em operação primeiro, em 2024. Já o terminal de grãos está previsto para iniciar as atividades em 2025.

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“Vamos ter um porto capaz de receber navios que hoje não operam na costa brasileira porque não existe estrutura para recebê-los. Além disso, o mercado naval está migrando para navios maiores. Ter um porto com calado suficiente para receber essas embarcações será fundamental para garantir a competitividade do Brasil no comércio internacional”, disse Cristiane Marsillac, CEO do Porto Aracruz, em entrevista para a Bloomberg Línea.

Um dos elementos que permitirá a atracagem de navios maiores é o tamanho do calado. Hoje, o porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro, é o que tem o maior, com 14,7 metros de profundidade, seguido por Santos, com 14,5 metros. O calado previsto para o Porto Aracruz será de 16 metros.

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Segundo a executiva, navios maiores permitem custos por tonelada transportada menores. Estudo da Fundação Dom Cabral (FDC) indica que, com o uso de embarcações Capezise, o custo do frete da soja transportada diminui em US$ 6 por tonelada, em uma análise conservadora. Diagnósticos mais recentes feitos pela empresa indicam a possibilidade de uma economia entre US$ 7 e US$ 10 por tonelada. O custo por tonelada de soja saindo do porto de Santos para a China é de US$ 63,50.

Olhando para o cenário mais conservador, nossa zona de abrangência incluiria a soja produzida em Minas Gerais, Goiás, leste de Mato Grosso e parte da Bahia. Em uma perspectiva mais otimista, poderíamos receber soja de áreas ainda mais distantes”, disse a CEO do Porto Aracruz.

Os cálculos do Porto Aracruz apontam que o terminal de grãos poderia movimentar por ano entre 9,8 milhões e 11,5 milhões de toneladas de soja, considerando a economia de US$ 6 por tonelada. O volume já seria equivalente aos embarques de soja realizados pelo porto de São Luís (Maranhão), o principal do arco norte, por onde foram exportadas 10,1 milhões de toneladas no ano passado. No cenário mais otimista, o novo porto do Espírito Santo seria capaz de atender uma demanda entre 23,2 milhões e 27 milhões de toneladas de soja, volume equivalente ao exportado por Santos em 2021.

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“Acreditamos que seremos os primeiros a ter um porto capaz de receber navios maiores e que, aos poucos outros, virão atrás. Vamos movimentar toda uma cadeia nova”, prevê o executivo.

Um pouco da história

Os portos de Rio Grande e Paranaguá, nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, respectivamente, já dominaram as exportações de soja do Brasil. Conforme a produção do grão migrou para o Centro-Oeste, o porto gaúcho perdeu relevância e a maior parte dos embarques se concentraram no Paraná.

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Quando as filas de caminhões passaram a fazer parte da paisagem paranaense no período do escoamento da safra, no início dos anos 2000, o porto de Santos enxergou uma oportunidade para diversificar sua pauta e ampliou os investimentos para receber a soja e seus derivados. Até então, o porto paulista dominava os embarques de café e carnes.

Hoje, quase 30% da soja exportada pelo Brasil sai pelo porto de Santos, segundo dados da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). Já os embarques por Paranaguá e Rio Grande representam cerca de 15% cada um das exportações totais de soja. Pelo arco norte, o principal porto para o escoamento do grão é o de São Luís, responsável por pouco mais de 11% dos embarques.

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Um dos motivos para a alteração na rota do escoamento da soja foi o aumento das exportações do grão para a China. O país asiático, que era o destino de apenas 20% da soja exportada pelo Brasil há duas décadas, recebeu no ano passado o equivalente a 70% dos embarques nacionais.

Outra razão foi a capacidade do Porto de Santos em receber navios maiores, o que tornava a rota até a China mais competitiva do que a partir do Paraná, que operava com navios menores até então. Atualmente, tanto o porto de Santos quanto o de Paranaguá têm estrutura para receber os navios conhecidos por Panamax, com capacidade para até 90 mil toneladas de grãos.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.

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