Por que a Revlon, gigante dos cosméticos, pediu concordata nos EUA

Com dívidas de US$ 3,7 bi, empresa busca plano para pagar credores 90 anos após lançamento de seu primeiro esmalte no mercado

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Bloomberg — A Revlon Inc. (REV) entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos por conta de problemas na cadeia de suprimentos, que tem piorado o endividamento da companhia. O movimento acontece em meio às dificuldades da empresa em aproveitar o aumento das vendas de cosméticos impulsionado por influenciadores digitais.

A gigante de cosméticos, que pertence à holding MacAndrews & Forbes, do bilionário Ronald Perelman, buscou proteção judicial no Distrito Sul de Nova York na terça-feira (14). De acordo com documentos judiciais, a empresa listou um total de ativos no valor US$ 2,3 bilhões, no final de abril, e dívidas de US$ 3,7 bilhões.

A empresa apresentou petição voluntária de reorganização sob o “Capítulo 11″ do Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, figura jurídica equivalente no Brasil ao pedido de recuperação judicial, em uma tentativa de buscar recuperação por meio da renegociação de suas dívidas.

Este é o último recurso para que a empresa não vá à falência, e permite que a companhia continue operando normalmente enquanto elabora um plano para pagar os credores.

Em comunicado, a Revlon disse que alinhou US$ 575 milhões (cerca de R$ 2,9 bilhões) do chamado “financiamento de devedor” para se financiar durante o período.

O pedido de concordata encerra um período tumultuado para a empresa, que sofreu durante a pandemia e enfrentou anos de queda nas vendas com mudanças nos hábitos de consumo e chegada de novas marcas no mercado. Recentemente, a empresa disse que os problemas na cadeia de suprimentos e a inflação estavam desafiando sua capacidade de acompanhar a recuperação da demanda do consumidor.

“A demanda do consumidor por nossos produtos continua forte – as pessoas adoram nossas marcas e continuamos a ter uma posição de mercado saudável. Mas a estrutura de capital limitou nossa capacidade de lidar com questões macroeconômicas para atender a essa demanda”, disse a CEO da Revlon, Debra Perelman, em comunicado.

História de 90 anos

Há 90 anos no mercado, a Revlon começou vendendo esmaltes durante a Grande Depressão e, mais tarde, incluiu batons em seu portfólio. Em 1955, a marca ficou internacional e em 1996, abriu o capital.

Em 1985, a empresa foi vendida para a holding MacAndrews & Forbes, do investidor americano Ronald Perelman, atual controladora da companhia, em uma aquisição considerada “amarga”, financiando o negócio com dívidas levantadas por Michael Milken. A MacAndrews & Forbes a certa altura processou a Revlon pela aceitação da empresa de uma oferta mais baixa da Forstmann Little & Co., resultando em uma decisão histórica do tribunal de Delaware sobre os deveres fiduciários dos membros do conselho, às vezes apelidada de “Regra Revlon”.

O endividamento da empresa se mostrou pesado, principalmente depois que ela vendeu mais de US$ 2 bilhões em empréstimos e títulos para financiar a aquisição da Elizabeth Arden, em 2016. Ela também possui marcas como Cutex e Almay, e comercializa em mais de 150 países.

Nos últimos anos, a Revlon tem lutado para competir com marcas mais novas e de propriedade das rivais L’Oreal SA e Estee Lauder Cos., que se voltaram para blogueiros e personalidades do Instagram para impulsionar o crescimento. A pandemia deu mais um golpe nas vendas.

O caso em questão é Revlon Inc., 22-10760, no Tribunal de Falências dos EUA para o Distrito Sul de Nova York.

-- Com a colaboração de Ameya Karve e Eduard Gismatullin.

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