Por que 11 companhias abertas deixaram o pregão da B3 no 1º trimestre?

Em jejum de IPO, Bolsa atinge o menor número de empresas listadas desde julho de 2021

Bolsa de Valores de Brasil
11 de abril, 2022 | 04:18 PM
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São Paulo — A B3 (B3SA3) fechou o primeiro trimestre de 2022 com 452 companhias listadas, menor número desde julho de 2021 (449), segundo dados operacionais do período divulgadas nesta segunda-feira (11). Em dezembro, eram 463 empresas com ações no pregão - ou seja, houve uma saída de 11 companhias abertas neste ano. Ausência de ofertas iniciais de ações (IPO) e operações de fechamento de capital e de incorporação explicam os números.

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“Em 2022, ano eleitoral, juros altos, guerra de pano de fundo e Ibovespa galgando altas puxado apenas por bancos e commodities, não há clima para IPOs”, avalia Danielle Lopes, analista da casa de análise Nord Research, em relatório sobre o cenário de IPOs para 2022.

Na sua opinião, a chamada “era de ouro” dos IPOs ficou no ano passado, quando houve um total de 47 ofertas, maior número desde 2007 (35 operações). Só no primeiro trimestre de 2021, foram feitas 29 aberturas de capital, acima do ano de 2020 inteiro (25).

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“Os IPOs são estrategicamente feitos em momentos otimistas de mercado, quando todos estão pagando caríssimo pelas empresas. O fluxo do Ibovespa e de novas empresas até então pareciam ignorar um enorme problema que voltou a nos assolar: o risco da quebra do teto de gastos (fiscal) e as sinalizações de intervenção do governo em empresas estatais. De junho em diante, tudo veio à tona. Com o elevado medo do mercado de um governo gastão e irresponsável, junto ao aumento de juros para conter a inflação, os IPOs começaram a perder força”, escreveu Lopes.

Dados do site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) apontam que, de janeiro a março deste ano, houve cinco cancelamentos de registros de companhia aberta:

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  • Janeiro: Hlasa Participações S.A.
  • Fevereiro: Cia Hering e Focus Energia Holding Participações
  • Março: MGI - Minas Gerais Participações S.A. e Notre Dame Intermédica Participações

Até março, a B3 contabilizou 6 empresas com cancelamento de listagem no mercado de bolsa:

  1. AES Tietê Energia S.A. (TIET)
  2. Lojas Americanas S.A (LAME)
  3. Cosan Logística S.A (RLOG)
  4. Omega Geração S.A (OMGE)
  5. Notre Dame Intermédica Participações S.A (GNDI)
  6. Mosaico Tecnologia ao Consumidor (MOSI)

Planos de simplificação societária também provocam redução do número de companhias listadas. É o caso do grupo varejista Americanas. Em janeiro, as ações da Lojas Americanas (LAME3 e LAME4) deixaram de ser negociadas no pregão, dentro do previsto no processo de incorporação de Lojas Americanas S.A. por Americanas S.A., cuja ação AMER3 tornou-se a única do grupo no pregão. Outro exemplo: no último dia 12 de março, com a incorporação pela Eneva (ENEV3), as ações da Focus Energia (POWE3) deixaram de ser negociadas na B3.

No caso da Mosaico, a companhia dona da marca Buscapé, teve aquisição anunicada pelo Banco Pan, controlado do BTG Pactual, em outubro. No mês passado, as ações da Mosaico (MOSI3) deixaram de ser negociadas, depois de o Banco Pan (BPAN4) incorporar os ativos da companhia. Situação semelhante também ocorreu com Notre Dame Intermédica (GNDI3), após conclusão da fusão com a operadora de planos de saúde Hapvida (HAPV3), se despediu do pregão em fevereiro.

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O derretimento dos preços das ações lançadas em IPO no ano passado também desestimula novas ofertas. Segundo a analista da Nord Research, das 49 ofertas iniciais concluídas até o dia 14 de dezembro do ano passado, apenas 27% estavam acima do preço inicial da oferta até o fechamento do último dia 7 de abril. “Um banho de sangue nos IPOs”, compara Lopes.

Os 15 IPOs de 2021 com maior retorno negativo para o investidor:

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  1. Getninjas (NINJ3): (-79,4%)
  2. Westwing (WEST3): (-77,8%)
  3. Dotz (DOTZ3): (-76,7%)
  4. Oceanpact (OPCT3): (-76,1%)
  5. ClearSale (CLSA3): (-75,7%)
  6. Brisanet (BRIT3): (-73,1%)
  7. Mobly (MBLY3): (-72,6%)
  8. Espaço Laser (ESPA3): (-68,2%)
  9. Cruzeiro do Sul (CSED3): (-65,8%)
  10. HBR Realty (HBRE3): (-63,2%)
  11. TC (TRAD3): (-58,9%)
  12. Mosaico (MOSI3): (-58,4%)
  13. Oncoclínicas (ONCO3): (-48,4%)
  14. Kora Saúde (KRSA3): (-46%)
  15. Multilaser (MLAS3): (-45%)

”Damos destaque para Geninjas, Westwing e Dotz, que acumulam perdas próximas aos 80%. Apesar de terem pego janelas mais aquecidas de IPOs, o histórico de resultados das companhias não traziam confiança no mercado. Das três empresas que acabamos de destcar, apenas Dotz possui expectativa de algum crescimento em 2022 e crescimento mais acelerado em 2023. Vale ressaltar que as três empresas captaram recursos no IPO para financiar o crescimento, que não veio na mesma dinâmica da promessa do prospecto. Captaram em uma ótima janela (mercado otimista, agressivo), porém, atravessam dificuldades para crescer (juros altos, economia ruim)”, observa a analista da Nord Research.

Fras-le realiza o 10º follow-on realizado na B3 neste ano

Follow-on

Enquanto a B3 não quebra o jejum de IPO neste ano, as ofertas subsequentes de ações estão se tornando mais frequentes. A última a realizar uma operação foi a Fras-le (FRAS3), powerhouse de reposição em autopeças que realizou seu IPO em 1971. Nesta segunda, foi realizada, na B3, a cerimônia de toque de campainha para celebrar a oferta subsequente de ações da Fras-le. Foi o 10º follow-on realizado na Bolsa brasileira neste ano.

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A oferta restrita consiste na distribuição pública primária de 52.450.000 de novas ações de emissão da companhia. A operação foi estruturada pelo Itaú BBA (coordenador líder), em conjunto com BTG Pactual, Bradesco BBI e Safra (coordenadores da oferta).

“Esse movimento representa o sucesso da estratégia da nossa operação, direcionada a captar recursos para a continuidade do crescimento da Fras-le. Vamos seguir nossa expansão de mercado, ampliar nossa presença internacional e explorar tecnologias novas, a exemplo das pesquisas de nanotecnologia (desenvolvidas pela empresa NIONE). Este momento reforça o novo patamar alcançado pela empresa nos últimos anos e nos posiciona como um dos players mais estratégicos no segmento”, disse o diretor de M&A e Relações com Investidores da Fras-le, Hemerson de Souza, em nota divulgada pela B3.

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No primeiro trimestre, as ações da B3 chegaram a liderar os ganhos do Ibovespa em janeiro, refletindo o forte ingresso de capital estrangeiro no mercado de renda variável. Nesta segunda-feira, a ação da B3 levou um tombo de 4,62%, cotada a R$ 14,88, com os analistas examinando os dados operacionais do primeiro trimestre, em meio a previsões pessimistas sobre o impacto da inflação e do aperto monetário no desempenho das ações brasileiras. O papel acumula ainda valorização de 33,5% no ano, oscilando entre uma mínima de R$ 10,58 e uma máxima de R$ 18,75 em 52 semanas. Em 12 meses, no entanto, tem perda acumulada de 19,16%, com os principais choques baixistas nos preços decorrentes das ondas da Covid-19 (Delta e ômicron) e preocupações com populismo fiscal.

Estrangeiros

Relatório publicado por Fernando Ferreira, estrategista chefe e head do research da XP, Jennie Li, estrategista de ações, e Rebecca Nossig, analista de estratégia de ações, comenta o aporte dos estrangeiros em R$ 21,3 bilhões na Bolsa em março. Os dados foram recentemente revisados após a detecção de um erro de metodologia adotada pela B3 desde outubro de 2020.

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“Março foi mais um mês volátil para os mercados globais, dessa vez com a alta dos preços das commodities, intensificada pela guerra entre Rússia e a Ucrânia, e os riscos de uma política monetária mais apertada tomando o centro das atenções. Com a guerra no leste europeu completando mais de um mês sem resolução, a inflação mais alta, puxada pelo aumento vertiginoso no preço das commodities, continua preocupando. Em uma tentativa de conter a escalada no aumento de preços no varejo, os bancos centrais globais optaram, em sua maioria, por uma postura mais contracionista nas economias”, citam.

A equipe da XP faz referência à mudança de rumo na política monetária dos EUA. Em março, o Federal Reserve anunciou o primeiro aumento de juros desde 2018 e os comentários que se seguiram dos diretores reforçaram a postura agressiva do BC americano. No Brasil, a inflação do mês de março foi a maior inflação para o mês desde o início do Plano Real, e o BC segue seu ciclo de aumento na taxa básica de juros.

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“Depois de estar entre os piores mercados em 2021, o Brasil é o mercado com o melhor desempenho no ano de 2022. Como mencionamos em nosso último Raio XP, o mercado brasileiro está se beneficiando de uma combinação de: 1) rotação global de ações de crescimento para ações de valor; 2) uma forte exposição do Brasil a commodities e bancos; 3) valuation ainda muito atrativos apesar do rali recente; 4) fluxos de outros Mercados Emergentes para o Brasil; 5) por fim, o Brasil está chegando ao fim de seu ciclo de alta de juros, enquanto o Federal reserve e outros bancos centrais de mercados desenvolvidos estão apenas começando subir os juros”, pontuam os analistas.

(Atualiza às 18h15 com comentários da XP e fechamento da cotação)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.

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