Bloomberg Línea — O plano do governo para conter e até reduzir os preços de combustíveis e tentar, por tabela, controlar a inflação pode desencadear um aumento na produção de açúcar no Brasil, maior exportador mundial, em um mercado que já deve ter superávit, ou seja, excedente de oferta. Isso pode impactar os preços aos produtores.
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que estabelece um teto entre 17% e 18% para o ICMS, um imposto estadual, sobre combustíveis, que responde por quase um terço da composição dos preços finais. Caso passe no Senado e seja sancionado, governadores e prefeitos provavelmente recorrerão ao Supremo Tribunal Federal, alegando que a lei interfere na autonomia dos Estados.
Na segunda-feira (6), o presidente Jair Bolsonaro anunciou mais detalhes de seus esforços para reduzir os custos de energia. Seu governo propõe eliminar todos os impostos federais sobre gasolina e etanol até o fim deste ano - com eleições presidenciais em outubro - e quer que os estados façam o mesmo com tributos para o diesel e o gás natural, dizendo que o Tesouro compensaria a perda de receita.
A redução do ICMS tornaria o etanol menos competitivo em relação à gasolina e provavelmente levaria a uma maior produção de açúcar por parte dos produtores de cana-de-açúcar.
As vendas de etanol das usinas caíram 24% na primeira quinzena de maio, segundo dados da Unica, a principal entidade do setor sucroalcooleiro. Os preços do etanol hidratado, que pode abastecer carros flex, caíram 12% desde o início de maio em São Paulo. Isso foi logo após o aumento da pressão do governo sobre a Petrobras (PETR3, PETR4) para segurar os preços da gasolina em ano de eleição.
A política atual é um golpe para as usinas, que investiram nos últimos anos na esperança de expansão dos negócios, disse Michael McDougall, diretor administrativo da Paragon Global Markets. “A demanda por etanol ficará restrita se a Petrobras não aumentar os preços da gasolina, e será reduzida ainda mais se o [corte de] ICMS for aprovado”, disse.
A “euforia” do mercado por um mix de produção mais favorável ao etanol ficou para trás, disse Bruno Lima, gerente de risco sênior da StoneX Financial. A última medida de Bolsonaro pode fazer os preços do etanol caírem mais 20%, acrescentou.
Dadas as perspectivas de deterioração, as usinas devem começar a desviar mais cana para produzir açúcar, disse Lima. A StoneX projeta que usinas na região Centro-Sul do país usarão em média 55,2% da cana para produzir etanol nesta safra, menos do que os 59,2% usados para combustível na primeira quinzena de maio.
Em Nova York, os futuros de açúcar bruto caíram 3% na terça-feira (7), a maior queda desde 22 de abril.
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©2022 Bloomberg L.P.
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