Bloomberg Línea — Em 2021, as exportações brasileiras de milho para a China foram praticamente nulas. Sem um protocolo sanitário vigente, os embarques sequer chegaram a uma tonelada. Contudo, alguns fatos recentes indicam que o cenário pode mudar.
O primeiro ocorreu na segunda-feira (23), quando China e Brasil divulgaram uma nota conjunta dizendo que foram concluídas as negociações para que os embarques brasileiros do cereal fossem retomados.
O segundo é que, de fato, mesmo sem o protocolo, um volume um pouco mais significativo foi embarcado para a China em abril. O Brasil exportou no mês passado pouco mais de 35 mil toneladas para o mercado chinês e, mesmo ainda distante de anos anteriores, o destino representou cerca de 5% do volume total embarcado no mês. Esse foi o maior volume mensal enviado à China desde setembro de 2020, conforme dados do Ministério da Economia.
Pode parecer pouco, mas a China nunca figurou entre os maiores destinos do milho brasileiro e esses 5% podem ser apenas o início de um movimento maior que está por vir. O melhor resultado dos últimos dez anos ocorreu em 2016, quando foram embarcadas 172,5 mil toneladas do cereal ao mercado chinês. Na ocasião, o volume não representou sequer 1% do total das exportações daquele ano, que somaram 21,9 milhões de toneladas.
Segundo a Bloomberg News citando operadores que não se identificaram, a China teria encomendado entre 250 mil e 400 mil toneladas de milho brasileiro para embarque em setembro. Se confirmada, apenas essa compra seria maior do que toda a exportação de milho feita pelo Brasil para a China entre 2016 e 2021 somada.
Empresas de inteligência de mercado especializadas no setor consultadas pela Bloomberg Línea projetam que a demanda chinesa por milho brasileiro pode variar de 7 milhões a 8 milhões de toneladas entre agosto e outubro deste ano. Nesses patamares a China passaria a ser um importante destino do cereal brasileiro, considerando uma estimativa total de exportações de 34 milhões de toneladas para o ciclo 2021/22, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O interesse dos importadores chineses do milho do Brasil está relacionado com a guerra na Ucrânia. Além da Europa, o país é um importante fornecedor de milho para a Ásia e estava uma posição à frente do Brasil no ranking dos maiores exportadores até o ano passado, antes de entrar em conflito com a Rússia.
Com dificuldade em se abastecer no mercado ucraniano e com limitações em ampliar os volumes importados dos Estados Unidos, a China estaria correndo contra o tempo para garantir o próprio abastecimento.
Atualmente, pouco mais de 25% das exportações americanas de milho têm como destino o mercado chinês. Outros 25% vão para o México, 17% para o Japão e o restante para outros países do mundo.
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