Musk defende liberdade de expressão no Twitter enquanto silencia críticos

Em seus projetos e empresas, Musk tem um longo histórico de silenciar ou punir quem venha a público com críticas a ele ou suas empresas

Elon Musk
Por Dana Hull - Sarah Frier - Maxwell Adler
21 de abril, 2022 | 05:34 PM
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Bloomberg — Se Elon Musk conseguir assumir o Twitter (TWTR), sua maior promessa é transformá-lo em uma plataforma de liberdade de expressão com poucas restrições – algo que ele chama de “essencial para uma democracia em funcionamento”. Mas Musk, que é notoriamente sensível às críticas, tem um histórico de confronto com críticos que vão a publico

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O bilionário de 50 anos doou mais de US$ 6 milhões para a União Americana das Liberdades Civis (ACLU) nos últimos cinco anos, tornando-se um de seus maiores doadores, e discutiu a liberdade de expressão em várias ocasiões com o diretor executivo da organização. Mas em seus tweets, comentários públicos e políticas nas empresas que administra, Musk mostra pouca tolerância a discursos que não fazem jus a ele ou a suas empresas, ou refletem as críticas de seus funcionários ao local de trabalho.

Na Tesla e na SpaceX, Musk tem um longo histórico de silenciar ou punir qualquer pessoa que venha a público com críticas a um de seus projetos. Seus funcionários assinam acordos de confidencialidade e cláusulas de arbitragem que os impeçam de levar seu empregador ao tribunal.

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Enquanto isso, Musk usa sua conta no Twitter, onde ele tem mais de 80 milhões de seguidores e uma base de fãs que ele pode inflamar, para zombar publicamente de outros, assim como fez durante os primeiros dias da pandemia com um oficial de saúde local durante os primeiros dias da pandemia e com Parag Agrawal, atual CEO do Twitter.

Musk definiu seu objetivo para o Twitter em um evento na semana passada: “Um bom sinal de que existe liberdade de expressão é: alguém de quem você não gosta tem permissão para dizer algo que você não gosta? Se for esse o caso, então temos liberdade de expressão.”

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Mas aqueles que disseram coisas de que Musk não gostou viram suas reputações publicamente destruídas. Vernon Unsworth, um espeleólogo britânico que ajudou a resgatar 12 meninos presos na Tailândia, chamou os esforços de Musk para ajudar com as “relações públicas” em 2018. Musk retaliou chamando-o de “pedófilo”.

Então ele pagou US$ 50 mil a um investigador particular duvidoso para investigar os antecedentes de Unsworth no Reino Unido e na Tailândia. Ele também tentou retaliar um repórter, Ryan Mac, que estava cobrindo o processo de difamação de Unsworth contra Musk.

Vernon Unsworth chegando ao tribunal em Los Angeles, em dezembro de 2019

Nesse mesmo ano, Musk foi atrás de Martin Tripp, um funcionário da fábrica de baterias da Tesla em Nevada. Tripp era um idealista que tentava melhorar as operações da empresa; Musk o via como um inimigo perigoso que se engajava em sabotar e compartilhar dados com a imprensa e “outros desconhecidos”.

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O departamento de relações públicas da Tesla espalhou rumores falsos de que Tripp era possivelmente homicida e fez ameaças a ele, embora as autoridades já tivessem determinado que Tripp não representava ameaça imediata.

Outro funcionário foi demitido seis dias depois de postar um vídeo no YouTube de seu Tesla Model 3 colidindo com um poste enquanto usava o “FSD Beta”, uma versão inicial do software que a Tesla lançou para cerca de 100 mil pessoas.

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Há também o caso de Jack Sweeney, um adolescente da Flórida que rastreia jatos particulares. Alguns meses atrás, Musk o procurou e ofereceu US$ 5 mil para fechar a conta “Elon’s Jet”, disse Sweeney. Musk viu isso como um risco de segurança. Sweeney pediu US$ 50.000, valor que Musk recusou. O bilionário então bloqueou algumas das contas de mídia social conectadas a Sweeney.

Se Musk fosse responsável pela política do Twitter, ele disse acreditar que as pessoas deveriam ser bloqueadas apenas como último recurso, de acordo com seus comentários no TED na semana passada. Se for uma área cinzenta, sua preferência seria deixar o conteúdo no ar, disse ele.

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É difícil obter clareza sobre as declarações que Musk faz no Twitter, em parte porque ele desfez a equipe de comunicação da Tesla nos EUA e raramente responde a perguntas da imprensa. Vários jornalistas que cobrem as empresas de Musk foram bloqueados por ele no Twitter. A Bloomberg News tentou contato, mas Musk não respondeu a um pedido de comentário por e-mail.

Musk se autodenominou “absolutista da liberdade de expressão” em março, quando tuitou que o Starlink – o serviço de internet baseado em satélite da SpaceX que agora está operando na Ucrânia – não bloquearia fontes de notícias estatais russas, que foram cortadas por algumas plataformas de mídia social.

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“Ele e eu conversamos sobre questões de liberdade de expressão em várias ocasiões, e sei que ele é bastante apaixonado por defender a liberdade de expressão”, disse Anthony Romero, diretor executivo da ACLU, por e-mail. Romero participou da conferência TED em Vancouver na semana passada, e ele e Musk trocaram mensagens logo após a conversa de Musk no palco. “Acredito que Elon seja um verdadeiro libertário civil”, disse.

Mas Musk já citou alguns casos em que acredita que o conteúdo do Twitter deveria ser bloqueado. No TED, ele disse que o Twitter deve continuar a remover conteúdo com base geográfica, já que a empresa “está vinculada às leis do país em que opera”. Na Alemanha, por exemplo, é contra a lei negar que o Holocausto aconteceu, então o Twitter esconde esses tuítes no país.

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Musk também disse que gostaria de banir golpistas de criptomoedas no site. A personalidade do bilionário – e sua popularidade com investidores de criptomoedas – foi usada para enganar as pessoas no passado.

“As políticas de uma plataforma de mídia social são boas se os 10% mais extremos da esquerda e da direita estiverem igualmente descontentes”, tuitou Musk na terça-feira (19), apresentando uma postura semelhante às declarações anteriores do CEO da Meta (FB), Mark Zuckerberg.

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O risco é desencorajar algumas pessoas a usar uma plataforma porque parece insegura ou propensa a abusos.

Musk está focado na “ideia de que liberdade de expressão significa não derrubar nada”, disse Emma Llansó, diretora do Projeto de Expressão Livre do Centro para Democracia e Tecnologia. Mas se as pessoas pararem de falar por medo de bullying ou assédio, “isso pode realmente acabar excluindo grandes grupos de pessoas e comunidades na participação de discursos online”.

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Embora não esteja claro se algum dos tuítes de Musk foi removido pelo Twitter, sua conta está sob intenso escrutínio de terceiros, incluindo a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a CVM americana, que processou Musk por fraude por seu tuíte de “financiamento garantido” de agosto de 2018. O texto fazia parte de uma mensagem dizendo que ele considerava a Tesla privada, e isso fez com que as ações aumentassem.

Musk e Tesla encerraram a disputa concordando em pagar US$ 20 milhões cada, sem admitir irregularidades. Musk também concordou em não tuitar sobre tópicos específicos sem a aprovação prévia de um advogado da Tesla.

Outro tuíte de Musk atraiu escrutínio do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas. Na postagem, também de 2018, ameaçava os trabalhadores com a perda de opções de ações caso formassem um sindicato.

Mas são os próprios esforços do Twitter para moderar o discurso que atraiu o desprezo recente de Musk. Ele disse que a empresa deveria recorrer com menos frequência ao banimento de usuários. Isso levou a especulações de que Musk poderia restabelecer a conta do ex-presidente Donald Trump se ele se tornasse o dono do Twitter.

“É sempre difícil quando você coloca humanos encarregados de tomar decisões sobre qual discurso deve ser permitido ou não”, disse Clay Calvert, que dirige o Projeto de Primeira Emenda Marion B. Brechner, da Universidade da Flórida. “A única resposta para as pessoas que se opõem às políticas de moderação de conteúdo do Twitter é formar sua própria empresa.”

Ou, no caso de Musk, comprar o Twitter.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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