Mercados seguem curso de queda após “choque de realidade” com inflação

Futuros de índices dos EUA operam no vermelho, embora com variações menos pronunciadas que as de ontem; queda do europeu Stoxx 600 gira em torno de 1,50%

As variáveis que orientarão os mercados
06 de mayo, 2022 | 07:37 AM

Barcelona, Espanha — Os mercados, que ontem tiveram o que para muitos foi um choque de realidade, seguia nos primeiros negócios da manhã o seu curso de perdas, embora bem mais moderadas, no caso dos Estados Unidos. Tanto os futuros de índices norte-americanos como as bolsas europeias operavam no vermelho. Os títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos subiam para acima dos 3%.

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Ontem, justo um dia após registrar a maior alta em dois anos, o S&P 500 afundou, com mais de 95% de suas empresas em queda. Instantes atrás, o contrato futuro atrelado ao indicador perdia 0,5%. Os futuros de Nasdaq, que instantes atrás recuavam 0,7%, viram seu índice de referência ontem sofrer uma das viradas mais bruscas de sua história - desabou quase 5%.

O plano de ação do Federal Reserve (Fed) de domar a disparada dos preços com o aumento do custo do dinheiro, que inicialmente tinha tranquilizado os mercados por afastar a hipótese de aumentos dos juros mais pronunciados, volta a levantar dúvidas no mercado. A pergunta em evidência é se o banco central norte-americano será capaz de frear o impulso inflacionário sem conduzir a maior economia do mundo a uma recessão.

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➡️ Os vetores do dia

Hoje, o principal destaque provavelmente será o relatório de empregos dos EUA para abril, que juntamente com a leitura do índice de preços ao consumidor (IPC) na próxima quarta-feira, ajudará a conformar o debate nas seis semanas que antecedem a próxima reunião do FOMC/Fed, em meados de junho. Economistas do Deutsche Bank estimam que a folha de pagamento dos trabalhadores não agrícolas aumente em 465 mil, o que, por sua vez, reduziria a taxa de desemprego para 3,5%. Já os analistas consultados pela Bloomberg falam que o Payroll terá aumento de 380 mil em abril.

🟢 Sólidos dados sobre as folhas de pagamento representam uma fonte duradoura de pressões inflacionárias - e dão ao Fed o respaldo para aplicar altas mais intensas dos juros, se assim julgar necessário.

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🔴 Esta manhã, o mercado conheceu alguns dados decepcionantes sobre a produção alemã, com queda de 3,4% em março, contra um acréscimo de 3% em fevereiro.

💸 Impacto nos negócios com bônus

O aumento dos prêmios de títulos soberanos de longo prazo é acompanhado com atenção pelos mercados, pois influi no custo dos empréstimos. As taxas de juros das hipotecas nos EUA voltaram a subir, alcançando o nível mais elevado desde agosto de 2009.

Também fez soar o alarme a piora do indicador de produtividade do setor não-agrícola, que sofreu a maior queda desde 1947 (baixou a uma taxa anual de 7,5% sobre os três meses anteriores). Já os custos trabalhistas subiram 11,6% no primeiro trimestre. Estes dados em mãos, acompanhados do recuo de 1,4% do PIB americano dias atrás, não trouxeram boas vibrações aos mercados.

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🏦 Apertem os cintos

Bancos centrais de todo o globo têm apertado o cinto para preservar o poder aquisitivo de seus cidadãos. Ontem, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), lançou um sinal de alerta que destoa do otimismo transmitido pelo presidente da Fed, Jerome Powell. Assustou com suas advertências de uma inflação superior a 10% no país e reconheceu o risco de contração de sua economia. A instituição aplicou o quarto aumento consecutivo de suas taxas, em 0,25 ponto percentual, para 1%, o maior nível em 13 anos.

Leia também o Breakfast, uma newsletter da Bloomberg Línea: Inflação em alta, emergentes com ar professoral

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✳️ Do lado das empresas

As ações das empresas de comércio eletrônico - da Etsy Inc. à Shopify Inc. - recuavam após reportarem lucros trimestrais mais fracos do que o esperado. As previsões menos otimistas aprofundaram a preocupação de que o ritmo das compras online tenha diminuído. A EBay Inc. deu uma perspectiva de vendas e lucros sem brilho para o trimestre atual, acelerando seu declínio em relação aos picos atingidos durante a pandemia.

Elon Musk garantiu cerca de US$ 7,1 bilhões de novos compromissos financeiros, inclusive do bilionário Larry Ellison, um príncipe saudita, e da Sequoia Capital, para ajudar a financiar sua proposta de aquisição do Twitter Inc., no valor de US$ 44 bilhões.

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Mercados acionários no vermelho em ambos lados do Atlântico

🟢 As bolsas ontem: Dow Jones (-3,12%), S&P 500 (-3,56%), Nasdaq Composite (-4,99%), Stoxx 600 (-0,70%), Ibovespa (-2,81%)

O otimismo nos mercados de ações não durou mais do que um dia. Os analistas questionaram a capacidade do Fed de controlar a inflação mais alta em décadas sem empurrar a economia dos EUA para uma recessão. Em meio a esses temores, o S&P 500 registrou seu segundo maior declínio do ano. Tanto o Dow Jones quanto o Nasdaq amargaram as quedas mais acentuadas desde 2020. Além disso, uma venda maciça de Treasuries de longo prazo elevou os prêmios do bônus de 10 anos acima de 3%.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

• EUA: Relatório de Emprego (Payroll) não-agrícola (Abr); Taxa de Desemprego/Abr; Ganho Médio por Hora Trabalhada/Abr; Taxa de Participação da Força de Trabalho/Abr; Crédito ao Consumidor/Mar

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• Europa: Alemanha (Produção Industrial/Mar); França (Folha de Pagamento do Setor Privado/1T22); Reino Unido (Índice de Preços de Imóveis Halifax/Abr; PMI de Construção/Abr); Espanha (Produção Industrial/Mar); Itália (Vendas no Varejo/Mar)

• América Latina: Brasil (IGP-DI/Abr; Produção e Vendas de Veículos/Abr); México (Investimento Fixo Bruto/Fev)

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• Ásia: Japão (Base monetária); Hong Kong (Reservas Internacionais/Abr)

• Bancos centrais: Pronunciamentos de John Williams e Raphael Bostic (Fed); Catherine Mann, Huw Pill e Silvana Tenreyo (BoE); François Villeroy (BCE); Joachim Nagel (presidente do Bundesbank)

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• Balanços: Intesa Sanpaolo, adidas, ING, Cigna, Alibaba, Sabesp, Porto Seguro, Enel Generación Chile

📌 E para segunda-feira, 9:

• Feriado: Hong Kong

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• EUA: Índice de Tendência de Emprego/Abr; Vendas no Atacado/Mar; Otimismo entre Pequenas Empresas NFIB/Abr; Índice Redbook

• Europa: Zona do Euro (Confiança do Investidor Sentix/Mai; (Percepção Econômica ZEW/Mai)); Alemanha (Percepção Econômica ZEW/Mai); França (Balança Comercial/Mar; Transações Correntes); Reino Unido (Vendas no Varejo do BRC/Abr)

• América Latina: Brasil (Boletim Focus; Vendas no Varejo/Mar); México (IPC/Abr)

• Ásia: Japão (Domingo: PMI do Setor de Serviços/Abr; Massa Salarial Geral de Empregados/Mar; Reservas Internacionais/Abr. Segunda: Gastos Domésticos/Mar); China (Balança Comercial/Abr; IPC e IPP/Abr)

• Bancos centrais: No domingo: pronunciamento de Raphael Bostic, do Fed e atas da Reunião de Política Monetária do Banco do Japão (BoJ)

• Balanços: Duke Energy, Microchip, BioNTech, Westpac Banking, Infineon, Exelon, Tyson Foods, Itaú Unibanco, Tran Gas del Sur, BTG Pactual, Cemargos, Cementos Argos, Naturgy, Assaí, Metalúrgica Gerdau

--Com informações da Bloomberg News

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.

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