Barcelona, Espanha — Os mercados lutam por encontrar uma direção. De um lado, as ações a preços atrativos incitam os investidores à compra. De outro, os sinais de que a inflação segue firme e forte, o que poderia obrigar os bancos centrais a uma política monetária mais restritiva, adicionam cautela e volatilidade às operações. Esta queda de braço se fará presente nas operações de hoje, que conta com uma agenda rica em dados para medir o pulso da economia em vários pontos do globo.
Nos Estados Unidos, os contratos atrelados ao Nasdaq já foram de menos a mais, com oscilações bastante frágeis. Na Europa, o índice Stoxx 600 devolvia os ganhos do início da manhã, com os investidores ainda repercutindo a inflação recorde da Zona do Euro - e suas implicações na política monetária do bloco.
Os títulos europeus se recuperavam, em sua maioria, mas nos EUA os bônus do Tesouro pediam prêmios maiores, embutindo menor valor nominal.
→ São estes os fatores de maior influência nesta manhã:
📉 Mudanças no balanço do Fed. O Federal Reserve dá a largada hoje à redução de seu balanço patrimonial. Atualmente, o maior banco central do mundo detém US$ 8,9 trilhões em títulos - mais do que o dobro que em 2020, quando eclodiu a pandemia. Com o mercado de trabalho próximo ao pleno emprego, o Fed avalia que o estímulo deixou de ser necessário. Será uma prova importante para a dinâmica dos mercados: ao resgatar os títulos que irão vencendo, em vez de renovar a dívida, o Fed enxuga a liquidez dos mercados. E tudo isso em um ambiente monetário mais restritivo, com juros em alta.
🆙 Petróleo para o alto. Seis ganhos mensais e muita incerteza pela frente. De um lado, dá motivo para uma baixa do petróleo a preocupação de que o aumento dos juros conduza as economias a uma recessão, o que afetaria o consumo da commodity. Mas o relaxamento dos lockdowns na China e as novas sanções da União Europeia contra o petróleo da Rússia levam a uma maior procura pela matéria-prima.
A OPEP+ se reúne virtualmente hoje e os líderes do grupo se preparam para, na quinta-feira, discutir sua política de abastecimento para julho.
🏭 A indústria se ressente. O índice de gerentes de compras da Zona do Euro estampou a fragilidade do setor industrial do bloco, em tempos de inflação recorde. Os pedidos de manufatura caíram pela primeira vez desde junho de 2020, segundo dados divulgados esta manhã pela S&P Global. O PMI de manufatura da S&P Global baixou de 55,5 em abril para 54,6 em maio - a pior marca em 18 meses.
Na China, a atividade fabril de maio ficou pior do que o esperado (49 pontos, segundo os economistas consultados pela Bloomberg). O PMI Caixin subiu para 48,1 em maio, sobre os 46 de abril, mas graças à entrada em operação de parte da produção que se viu afetada pelos lockdowns. O indicador segue abaixo de 50, a linha divisória que separa a expansão da contração.
🌪 Volatilidade, volatilidade. Com os últimos dados de inflação - indicadores recordes na Europa - e a proximidade das reuniões de política monetária do Banco Central Europeu (9 de junho) e do Fed (14-15 de junho), os mercados devem seguir a um passo cauteloso. Será um momento crucial: os mercados voltarão a se aproximar do terreno de baixa (bear market)? Teoricamente, o mercado de baixa, no caso do S&P 500, chegaria se tocasse os 3.835 pontos - patamar 7% inferior ao nível atual (4.132) e onde marcaria 20% de queda a partir de seu máximo de 2022, 4.800 pontos, registrado em 3 de janeiro.
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🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrial (-0,67%), S&P 500 (-0,63%), Nasdaq Composite (-0,41%), Stoxx 600 (-0,72%), Ibovespa (+0,29%)
Os investidores seguem atentos a qualquer sinal de que as pressões inflacionárias se estendam mais do que o esperado. A confiança dos consumidores dos EUA caiu em maio para seu nível mais baixo desde fevereiro. O índice do Conference Board recuou a 106,4 a partir de uma leitura, revisada para cima, de 108,6 em abril. E a inflação na Zona do Euro em maio marcou um recorde, com os preços ao consumidor subindo 8,1% em termos anuais. No mês fechado de maio, o S&P 500 e o Dow Jones Industrials subiram, respectivamente, 0,01% e 0,04%. O Nasdaq Composite, derrubado pelas ações de tecnologia, perdeu 2,05%.
Na agenda
Esta é a agenda prevista para hoje:
• Indicadores PMIs: Estados Unidos, Zona do Euro, Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Brasil, México
• EUA: O Fed deve começar a reduzir o seu balanço de US$ 8,9 trilhões. Relatório “Livro Bege”; Reunião virtual OPEC+; Pedidos e Juros de Hipotecas MBA; Índice Redbook, Gastos de Construção/Abr; Índice de Novos Pedidos ISM/Mai; Ofertas de Emprego JOLTs/Abr
• Europa: Zona do Euro (Taxa de Desemprego/Abr); Alemanha (Vendas no Varejo/Abr); França (Balanço Orçamentário do Governo/Abr); Reino Unido (Índice de Preços de Imóveis Nationwide/Mai)
• Ásia: Hong Kong (Vendas no Varejo/Abr); Japão (Base Monetária)
• América Latina: Brasil (Fluxo Cambial Estrangeiro; Balança Comercial/Mai)
• Bancos centrais: Decisão sobre juros do Banco do Canadá. Discursos de Christine Lagarde (presidente do BCE), Fabio Panetta (BCE), John Williams (Fed de NY), James Bullard (Fed St. Louis)
📌 Para a semana:
• Quinta-feira: Discurso de Loretta Mester (Fed de Cleveland)
• Sexta-feira: Relatório de Emprego dos EUA em maio. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura libera seu índice mensal de preços de alimentos em um momento de máxima preocupação com o abastecimento global
--Com informações da Bloomberg News