Barcelona, Espanha — (Esta nota atualiza a versão publicada originalmente às 6h03)
O dia nos mercados acaba de ganhar contornos dramáticos com a divulgação do CPI, o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA, em maio, que veio acima das expectativas consensuais do mercado: 8,6% na taxa anual, acima dos 8,3% estimados e que haviam sido registrados no mesmo intervalo de tempo em abril. Isso pode reforçar a avaliação de necessidade de uma política monetária mais agressiva pelo Federal Reserve (Fed), que na próxima quarta-feira decide sobre as taxas de juros dos Estados Unidos. Futuros em Nova York e bolsas europeias passaram a cair com o dado.
Voláteis, os futuros índices dos EUA já oscilaram entre os campos positivos e negativos nesta manhã. As bolsas de valores europeias permanecem no vermelho, sentindo o peso do tom mais duro do BCE. Os títulos americanos de 10 anos, bem como os alemães, se recuperavam há alguns momentos, mas os títulos soberanos italianos e espanhois perdiam valor ao embutirem prêmios mais elevados. O petróleo apagava as perdas exibidas no começo da manhã desta sexta-feira.
🔝❓Tocará ou não o teto? O comportamento dos preços nos EUA e a proximidade de reuniões de política monetária (na próxima semana também tem decisão sobre juros dos bancos centrais do Reino Unido, do Japão e do Brasil) devem ditar cautela aos mercados. Os economistas do Deutsche Bank esperavam que a variação mensal dos preços acelerasse novamente, de 0,3% em abril para 0,7% em maio, o que manteria em 8,3% a inflação na comparação anual. Mas avançou 1,0% em maio.
🔴 Será um momento crucial. Se a pressão sobre a renda variável continuar negativa, os mercados ficarão ainda mais perto do terreno de baixa (bear market). Teoricamente, o mercado de baixa, no caso do S&P 500, chegaria se este tocasse os 3.835 pontos - patamar 4,5% inferior ao nível atual (4.017) e onde marcaria 16,31% de queda a partir de seu máximo do ano, 4.800 pontos, registrado em 3 de janeiro.
😠 A outra face do BCE. Ontem, a autoridade monetária europeia mostrou, pela primeira vez em uma década, um tom agressivo. Reconheceu abertamente o desafio da inflação e a necessidade de devolvê-la à meta, sugerindo que na reunião de julho aplicará um aumento de 0,25 ponto percentual ao juro da Zona do Euro. Também abriu, formalmente, a porta para um acréscimo de 0,50 ponto percentual no encontro de setembro, dependendo se as perspectivas para a inflação “persistem ou se deterioram”.
💶 O mercado pede mais. Mas os operadores sentiram falta de um plano para evitar uma fragmentação entre os emissores de dívida do bloco, na hipótese de que haja uma venda maciça de títulos - ontem houve um repique geral nos prêmios dos títulos europeus. Só adiantou que planeja reinvestir o principal dos títulos adquiridos sob o PEPP (o programa de compra de ativos estabelecido durante a pandemia) que estão vencendo até pelo menos o final de 2024. Desta forma, tenta compensar o aumento do prêmio de risco dos países mais vulneráveis a um encarecimento do custo da dívida européia, como Itália, Grécia e Espanha.
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🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-1,94%), S&P 500 (-2,38%), Nasdaq Composite (-2,75%), Stoxx 600 (-1,36%), Ibovespa (-1,18%)
O anúncio do Banco Central Europeu de que aumentará as taxas de juros e sua revisão do quadro macroeconômico alimentou as preocupações dos investidores, que já haviam recebido uma cascata de alertas de organismos multilaterais para um crescimento econômico mundial mais lento e uma inflação persistente. O BCE sinalizou uma alta de 0,25 ponto percentual em julho, e uma maior poderia vir em setembro, dependendo de como se comporte a inflação.
Na agenda
Esta é a agenda prevista para hoje:
• EUA: IPC/Mai (9h30 de Brasília), Rendimento Real/Mai, Confiança do Consumidor e Expectativas de Inflação - Universidade de Michigan, Balanço Orçamentário Federal/Mai
• Europa: Alemanha (Saldo das Transações Correntes/Abr); Reino Unido (Expectativas da Inflação); Espanha (IPC/Mai)
• Ásia: China (IPC, IPP, Crescimento dos Empréstimos)
• América Latina: Brasil (Vendas no Varejo/Abr); México (Produção Industrial/Abr)
• Bancos centrais: Discursos de Christine Lagarde (presidente do BCE), Joachim Nagel (presidente do Bundesbank)
--Com informações da Bloomberg News