Bloomberg — MacKenzie Scott transformou a filantropia americana nos últimos três anos, doando quantias recordes de dinheiro para causas negligenciadas. Agora, ela está intensificando suas doações fora dos Estados Unidos, onde seus bilhões podem ter um impacto ainda maior.
A última onda de doações de Scott — US$ 3,9 bilhões — incluiu cerca de 60 organizações sem fins lucrativos sediadas fora dos EUA, de um total de 465 que receberam doações desde junho passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.
São causas espalhadas por cinco continentes, desde a pequena nação insular da Micronésia, no Oceano Pacífico, até as favelas do Rio de Janeiro. Também houve um aumento nas doações feitas a organizações sediadas nos EUA mas que distribuem fundos globalmente, inclusive para organizações de auxílio na Ucrânia.
Ao todo, Scott, de 51 anos, doou cerca de US$ 12,4 bilhões em 1.257 doações desde 2019, quando assinou o Giving Pledge, uma promessa de doar a maior parte de sua vasta fortuna para ajudar a resolver problemas sociais.
As doações mais recentes para grupos internacionais são quase duas vezes mais numerosas do que em levas anteriores. Antes do anúncio de 23 de março, das 800 organizações que haviam recebido doações, menos de três dúzias estavam fora dos EUA, em países como Índia e Quênia, de acordo com dados coletados pela Bloomberg.
O que permanece inalterado é a propensão de Scott para o mistério e doar quantias de dinheiro transformadoras para organizações que não as esperavam.
Oportunidade única
“Nem em nossos sonhos mais loucos imaginamos quem era MacKenzie Scott”, disse Catherine Kyobutungi, diretora executiva do African Population and Health Research Center, uma organização sem fins lucrativos com sede em Nairóbi, no Quênia, que recebeu uma doação de US$ 15 milhões, a maior doação de uma pessoa física na história da instituição.
O APHRC, fundado há duas décadas, apoia pesquisadores africanos promissores que trabalham em questões de desenvolvimento em África. Frequentemente recebe pedidos de informações de pessoas que representam indivíduos ricos anônimos, disse Kyobutungi, mas a organização ainda está tentando descobrir qual contato levou à doação de Scott.
“Esse tipo de doação é uma oportunidade única que nos manterá a longo prazo”, disse ela. “Nunca vimos nada parecido.”
Scott, que não quis comentar, disse em uma publicação em seu blog de 23 de março que ela e sua equipe “buscam um portfólio de organizações que apoiem a capacidade de todas as pessoas participarem de soluções”. Seu foco “incluiu algumas novas áreas, mas, como sempre, nosso objetivo foi apoiar as necessidades de pessoas sub-representadas”.
A ex-esposa do fundador da Amazon (AMZN), Jeff Bezos, tem patrimônio de US$ 53 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
Doações no Brasil
Assim como suas doações nos EUA, os alvos globais de Scott abrangem uma ampla gama de causas. Sua fortuna agora financia esforços tão diversos quanto melhorar a saúde pública na Índia, apoiar jovens feministas na América Latina e proteger a floresta amazônica. Ela também doou US$ 6 milhões ao Micronesia Conservation Trust, que administra os esforços de proteção da biodiversidade em lugares como a República de Palau e o território norte-americano de Guam.
“Ainda não sabemos como ela nos notou”, disse Lisa Andon, vice-diretora executiva do MCT.
Das doações feitas para organizações sem fins lucrativos não sediadas nos EUA, cerca de um quarto foi para organizações brasileiras. No Brasil, como em outros mercados emergentes com moedas mais fracas, suas doações em dólares têm impacto extra.
Vera Cordeiro, de 71 anos, é uma médica que iniciou um projeto na década de 1990 para melhorar o atendimento à saúde das famílias mais pobres do Rio de Janeiro com nada além de um armário de remédios e comida. O Instituto Dara, que ela ajudou a fundar, recebeu uma doação de US$ 1 milhão de Scott.
O primeiro contato de Scott veio através do Bridgespan Group, disse Cordeiro, uma consultoria sem fins lucrativos que assessora filantropos e também recebeu uma doação de Scott no passado. Todo o processo de diligência levou cerca de quatro meses, disse ela.
Cordeiro espera que as doações de Scott motivem os brasileiros ricos a se envolverem mais na filantropia. O país é a maior economia da América Latina, mas também uma das mais desiguais, com o 1% mais rico detendo quase metade de toda a riqueza do país, segundo o World Inequality Database.
“Se nossa organização tivesse sido criada nos EUA, eu não precisaria mendigar dinheiro todo ano”, disse ela. “A doação de MacKenzie Scott é um marco, mas onde estão todos os bilionários brasileiros?”
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