São Paulo — A incorporadora e construtora paulista Mitre Realty (MTRE3) arrematou a marca Daslu por cerca de R$ 10 milhões. O leiloeiro Luiz Fernando Sodré Santoro não divulgou imediatamente a identidade do vencedor no leilao realizado ontem (8), cumprindo um trâmite legal. Nesta quarta-feira (8), o CEO da companhia, Fabricio Mitre, comentou a aquisição à Bloomberg Línea, citando o plano da incorporadora de fortalecer o seu posicionamento no mercado de altíssimo padrão na cidade de São Paulo.
“A Mitre Realty sempre teve como estratégia a diferenciação de seus produtos em relação aos da concorrência. E a aquisição da marca Daslu é parte dessa estratégia. Queremos oferecer diferenciais inéditos em empreendimentos também de altíssimo padrão, mercado em que almejamos ser líderes em São Paulo, trazendo uma experiência de lifestyle única, muito mais completa e abrangente. Com isso, os clientes poderão usufruir de produtos, serviços e experiências únicos, revolucionando o jeito de morar com qualidade”, disse o executivo em nota enviada à Bloomberg Línea.
Uma vez concretizada a aquisição, que aguarda decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, a Mitre passará a ter direito às 51 marcas da Daslu, como Daslulu, Terraço Daslu, Daslu Vintage, Daslulabel, Villa Daslu e DasluShoe Space, entre outras, que oferecem desde itens para animais de estimação até decoração, cama, mesa, banho, roupas, cosméticos e até administração de imóveis.
Conhecida pela venda de produtos importados de primeira linha, como Chanel e Prada, além de outros de marca própria, a Daslu começou como uma loja multimarcas na Vila Nova Conceição, zona sul de São Paulo, tornando-se um dos principais símbolos do mercado de luxo na capital paulista.
Responsável pelo leilão, Santoro comentou o clima do leilão, que, segundo ele, lembrou um realizado em 2010, no pregão da marca Mappin à rede Marabraz. “Foi um processo bem disputado e que mostrou como a força de uma marca tradicional ainda pode ser grande. Esse leilão provou que a marca Daslu teve e ainda tem seu valor para o mercado. Daslu não era simplesmente um sinônimo de uma loja, mas de um conceito de vendas”, afirmou.
Ele contou que a disputa foi acirrada, com lance inicial de R$ 1.411.022, que correspondia ao valor atualizado da avaliação da marca, e que alcançou o valor de venda de R$ 10 milhões após 32 lances ofertados por cinco participantes diferentes.
O edital do leilão citava que “os referidos direitos estão delimitados nos respectivos processos perante o INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], nos quais estão identificados o elemento nominativo, a classe de titularidade, natureza e especificações de cada segmento, consoante certidão constante dos autos”.
Com base no edital, a Mitre usar o nome em produtos como vestuário, joias, bijuterias, acessórios, perfumaria, higiene, decoração, promoções, comunicação, publicações, eventos, entre outros.
“Por exemplo, dentre as marcas que estão incluídas está o ‘Terraço Daslu’, que foi, durante anos, um nome forte em eventos de diversos moldes”, diz Carolina Lauro Sodré Santoro, leiloeira oficial.
No começo de 2020, a Mitre Realty abriu capital na B3, com a coordenação dos bancos Itaú BBA, BTG Pactual e Bradesco BBI. Atualmente, a companhia informa ter mais de R$ 5 bilhões em banco de terrenos na capital paulista para assegurar lançamento nos próximos anos. No ano passado, a Mitre lançou dez empreendimentos, totalizando R$ 1,8 bilhão em VGV (valor geral de vendas).
Concorrência
Para os analistas Bruno Mendonça (Bradesco BBI) Wellington Lourenço (Ágora Investimentos), o impacto real e os ganhos financeiros relacionados ao uso da marca Daslu em projetos imobiliários serão difíceis de quantificar, mas eles estimam que o valor de R$ 10 milhões que a Mitre pagou para adquirir os direitos da marca perpetuamente está em grande parte em linha com os custos envolvidos no licenciamento de marcas de primeira linha para um único projeto, mesmo antes de contabilizar os custos adicionais relacionados aos padrões de qualidade das marcas (materiais específicos, arquitetos etc.).
“A aquisição da marca Daslu pela Mitre segue uma tendência recente dos pares de lançar projetos de marca com resultados positivos, tais como Lavvi’s Villa by Versace, JSHF/Fasano, Helbor/Artefacto, Gafisa/Lamborghini, entre outros. A maioria destes projetos de marca foi baseada em parcerias, portanto, a Mitre inova um pouco ao adquirir de fato os direitos sobre a marca Daslu”, escreveram em nota enviada aos clientes.
Os analistas consideraram a iniciativa da Mitre como “interessante”, principalmente considerando que “o valor pago não é uma mudança substancial para a posição de caixa da empresa”.
A Daslu faliu deixando uma dívida de R$ 138,2 milhões com uma lista de 109 credores, segundo a Expertisemais, administradora judicial.
(Atualiza às 12h do dia 9/6 com comentário de analistas)
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