Fazendeiros ucranianos lutam também contra a crise alimentar

Além de impactar nas exportações para grandes potências como Inglaterra e Egito, conflito na Ucrânia afeta abastecimento interno do país

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Bloomberg — Por volta dessa época do ano, Yaroslav Andrushko costumava supervisionar a semeadura em sua fazenda de 1.000 hectares na região de Vinnytsya, no centro da Ucrânia.

Em vez disso, ele trocou suas roupas de trabalho por uniformes e se juntou ao exército um dia depois que a Rússia invadiu seu país. “Uma vez agricultor, sempre agricultor”, disse Andrushko, executivo-chefe de uma pequena empresa agrícola. “Mas as circunstâncias nos obrigaram a pegar em armas.”

Enquanto os ucranianos resistem à ofensiva militar do presidente russo Vladimir Putin, o ucraniano de 36 anos é um exemplo da resiliência demonstrada por tantos de seus compatriotas ao proteger a soberania de sua nação. Mas Andrushko e agricultores como ele também defendem um componente central da cadeia global de fornecimento de alimentos que está cada vez mais em perigo.

A Ucrânia é o maior produtor mundial de óleo de girassol e está entre os seis maiores exportadores de trigo, milho, frango e até mel. O dinheiro que ganha com a agricultura – US$ 28 bilhões no ano passado – agora é mais vital por causa do esforço de guerra, e a produção mais crítica para um mundo onde preços recordes levantam preocupações sobre a segurança alimentar.

Egito e Turquia, que dependem de grãos russos e ucranianos, lutam com inflação disparada. O governo do Cairo estuda aumentar o preço de pão subsidiado pela primeira vez em quatro décadas. A escassez de óleo de girassol na Europa, enquanto isso, força fornecedores a buscar alternativas. Supermercados em todo o Reino Unido limitam quanto óleo de cozinha os clientes podem comprar.

Isso, por sua vez, eleva os preços do óleo vegetal até na Índia, onde vendedores ambulantes agora cozinham petiscos a vapor em vez de fritar. Há também uma demanda crescente por óleo de palma, que está associado ao desmatamento de florestas.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy disse que a Rússia, ela própria uma importante exportadora agrícola, ataca deliberadamente terras produtivas, coloca minas terrestres em campos e destrói equipamentos e instalações de armazenamento. Essas alegações foram corroboradas pelo comissário da União Europeia Janusz Wojciechowski, que disse que o bloco buscaria ajudar os agricultores da Ucrânia.

Não só o país está cada vez mais incapaz de exportar porque as rotas de trânsito foram cortadas, mas a Ucrânia também precisa usar sua produção agrícola mais limitada para garantir sua sobrevivência, disse o ministro da agricultura do país no mês passado.

O primeiro-ministro irlandês Micheal Martin ecoou os avisos em 20 de abril, depois de se encontrar com seu colega ucraniano, que estava a caminho de Washington. “Há um objetivo claro de criar uma crise alimentar em cima da crise energética, bem como travar uma guerra imoral e injusta contra a própria Ucrânia”, disse Martin.

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