Erro da B3 infla saldo de investimento estrangeiro em R$ 27 bi em 2022

Bolsa revisa metodologia de cálculo da participação do capital externo na movimentação do mercado secundário após identificar erro

B3 corrige dados sobre movimentação de transações realizadas pelos investidores estrangeiros
01 de abril, 2022 | 03:21 PM

São Paulo — A B3 (B3SA3) admitiu nesta sexta-feira (1°) um erro de metodologia no cálculo do saldo de investimento estrangeiro desde outubro de 2020. Com isso, a Bolsa acumula um saldo positivo no mercado secundário de R$ 64,1 bilhões, e não de R$ 91,6 bilhões, uma diferença de R$ 27 bilhões, referente ao primeiro trimestre deste ano (até o último dia 30). Isso significa que o volume foi inflado em 42%. A Bolsa considerava o volume de empréstimos de ações, o que não representa fluxo financeiro, no indicador divulgado diariamente com defasagem de dois dias úteis.

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Os dados que a gente vinha divulgando desde outubro de 2020 estavam incluindo operações de empréstimo de ações feitas via tela. Esse tipo de operação de empréstimo não tem fluxo financeiro, ou seja, não tem pagamento de um lado para o outro, não deveria ser contablizado como uma compra ou uma venda”, disse Luis Sergio Kondic, diretor de produtos da B3, em teleconferência com jornalistas, nesta tarde.

Ele disse que a Bolsa foi alertada do erro por clientes e decidiu, em seguida, iniciar uma revisão interna dos dados e promover uma mudança de metodologia. Por enquanto, só os dados de 2022 foram revisados. Falta revisar o período de outubro de 2020 até dezembro de 2021. Não foi divulgado prazo para a conclusão desse processo, segundo Kondic.

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O executivo explicou que o erro ocorreu em outubro de 2020, quando a Bolsa lançou o empréstimo de ações em tela. Ele disse que a revisão dos dados não tem impacto nas demonstrações contábeis da B3.

Diariamente, a imprensa de finanças acompanha a movimentação dos diferentes grupos de investidores nas compras e vendas de ações na Bolsa. O saldo positivo de capital externo (compras superiores às vendas de ações) é um indicador importante para medir o apetite dos estrangeiros no mercado brasileiro de renda variável.

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Com a revisão dos dados do primeiro trimestre deste ano, o saldo positivo de investimento estrangeiro do mês de janeiro passa de R$ 32,5 bilhões para R$ 23,4 bilhão. O de fevereiro cai de R$ 30,1 bilhões para R$ 20,6 bilhões. E o de março, até o último dia 30, pois há uma defesagem de dois dias úteis para o cálculo, sai de R$ 28,5 bilhões para R$ 20,1 bilhão.

“A revisão é necessária porque as operações de empréstimo de ações não envolvem aportes financeiros, portanto, serão retiradas da estatística. Com a alteração, a B3 revisará os dados dos últimos três anos, quando a operação de empréstimo de ativos em tela passou a compor o número. As informações revisadas de 2022 foram divulgadas hoje, enquanto aquelas relativas a 2020 e 2021 continuam sob análise e serão divulgadas em breve”, justificou a B3, em nota.

Clubes de investimento

A B3 possui hoje dois endereços no site institucional nos quais divulga dados de investidores e o perfil de quem investe em renda variável. O primeiro deles, a planilha Dados de Mercado, que disponibiliza o histórico mensal do ano anterior e o fechamento anual desde 2016 do fluxo do investidor estrangeiro.

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O segundo endereço, Participação dos Investidores, contém, além do fluxo do volume financeiro dos investidores não-residentes, os valores referentes aos outros tipos de investidores na bolsa: investidores individuais, clubes de investimentos, investidores institucionais, empresas públicas e privadas, instituições financeiras e outros. A partir da mudança de metodologia anunciada hoje, os investimentos realizados por clubes de investimento serão consolidados aos investidores individuais e Empresas Públicas e Privadas, a “outros”.

(Atualiza às 19h40 com detalhes da mudança de metodologia)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.

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