Bloomberg Línea — Depois de um crescimento avassalador no investimento em criptomoedas de 938% entre investidores brasileiros em 2021, de acordo com um levantamento da corretora Hashdex com base em dados da B3 e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o momento pode parecer de pisar no freio.
Diante de um mercado de ações estressado e de um cenário macroeconômico instável e incerto, os investidores têm optado, em sua maioria, por uma venda maciça de criptomoedas. Uma estimativa do site de rastreamento de preços CoinMarketCap mostrou que mais de US$ 200 bilhões foram subtraídos deste mercado em apenas 24 horas.
Na quarta-feira (11), o CEO da Binance, Changpeng Zhao, escreveu em seu Twitter que é preciso “respeitar o mercado, com um nível de cautela também”, e que é preciso “construir produtos reais, não dependentes de incentivos ou promoções de curto prazo, mas com valor intrínseco que as pessoas usam”.
Many asked me about the markets today. We need to respect the market, with a level of caution too. It goes up and down in cycles. And especially the fact that it doesn’t always make sense. 1/4
— CZ 🔶 Binance (@cz_binance) May 11, 2022
“Muitos me perguntaram sobre os mercados hoje. Precisamos respeitar o mercado, com um nível de cautela também. Ele sobe e desce em ciclos. E principalmente o fato de que nem sempre faz sentido.”
É o fim da linha para o mercado de criptomoedas? Não exatamente.
“É preciso consciência da volatilidade dos criptoativos”, lembra Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, em entrevista à Bloomberg Línea.
Resiliência e atenção aos detalhes
Medeiros vê o momento como “delicado”, do ponto de vista macroeconômico, e cita este fator como um dos principais responsáveis pela queda generalizada dos criptoativos, bem como o colapso da Luna que, há pouco mais de um mês, era uma das 10 maiores criptomoedas por capitalização de mercado, e hoje está em 14º lugar.
Mas, justamente aqui é que surge brecha para a máxima “comprar na baixa e vender na alta”, um bordão clássico entre investidores.
“É preciso ser conservador nos investimentos, não arriscar em ativos de baixa capitalização e também ser sempre muito resiliente emocionalmente, embora o mercado de baixa seja o melhor momento para comprar criptoativos, já que num momento de alta essa volatilidade é muito recompensadora pra cima, e quem tiver paciência para comprar criptoativos o longo prazo, vai ser recompensado quando o cenário tiver melhor”, diz.
Num momento de maior fuga de liquidez, com o dinheiro se esvaindo do mercado de cripto, os melhores ativos para se posicionar são os com maior capitalização, defende Medeiros.
“Ativos que estão mais bem fundamentados, como o Ethereum, Solana e o próprio Bitcoin, captaram muito dinheiro enquanto o mercado estava em alta para continuar o desenvolvimento de sua tecnologia e das aplicações que são construídas dentro de seu blockchain. Então, o investidor deve procurar por estes ativos com maior valor de mercado e mais bem capitalizados, com dinheiro em caixa, para sobreviver ao mercado em baixa”.
Especificamente sobre o Ethereum, a segunda maior criptomoeda do mundo e que reverteu queda no fim da tarde desta quinta-feira (12), Medeiros diz que há uma oportunidade em vista, uma vez que a tecnologia do ativo será revertida, deixando a mineração para um sistema “Proof of Stake” (Pos), o que reduz o consumo energético em 99,9%, segundo Medeiros, e que é “muito positivo para o mercado cripto porque também libera espaço para que outras empresas possam investir em Ethereum por passar a ser uma blockchain eco friendly, a atender requisitos ESG”, explica.
Stablecoins: uma alternativa viável?
As stablecoins, que ao contrário do Bitcoin não possuem nenhum tipo de lastro, são uma categoria de cripotmoedas que possuem seu valor atrelado a algum outro ativo considerado mais estável - e isso pode ser uma vantagem no que diz respeito a risco.
“As stablecoins são ativos mais seguros, que não estão tão suscetíveis à volatilidade. Porém, quando a pessoa está comprada em stablecoin, não é considerado que ela esteja exposta ao mercado de criptomoedas, mas sim à moeda moeda fiduciária, ou a uma commodity - como é o caso do ouro. Essa segurança tem levado boa parte dos investidores a alocar recursos em stablecoins”, explica Medeiros.
“As stablecoins permitem que você tenha seu dinheiro dentro da blockchain, ou seja, dentro do mercado cripto ou em corretoras, ou até mesmo em corretoras descentralizadas, numa moeda estável, e aproveitar eventuais quedas do mercado”, diz.
No entanto, como qualquer ativo, é preciso lembrar que as stablecoins possuem vantagens e desvantagens e, por ser relativamente nova, ainda há dúvidas entre investidores e especialistas sobre sua capacidade de paridade.
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