Bloomberg Línea — A temporada de balanços corporativos referentes ao primeiro trimestre está chegando ao fim. Em relatório, a XP Investimentos apontou que os números vieram sólidos, de forma geral, até agora, melhores que o esperado pelo consenso dos analistas de mercado.
Das empresas sob a cobertura da casa, 62% reportaram lucros operacionais (Ebitda) acima do esperado, 8% vieram em linha, enquanto os 31% restantes vieram abaixo do previsto. Quanto à receita, 40% das empresas superaram as expectativas da XP, 17% foram em linha e 42% vieram abaixo. Ou seja, de forma geral, as companhias estão mais eficientes apesar da desaceleração do crescimento.
No setor financeiro, metade das empresas que têm cobertura dos analistas da XP apresentaram resultados acima do esperado. Os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li, que assinam o relatório, chamam a atenção para os resultados de Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú Unibanco (ITUB4), que vieram positivos.
No caso do BB, o time destacou como positivo o lucro líquido de R$ 6,6 bilhão, mesmo com a margem financeira pressionada pelo aumento nos custos de captação associados ao aperto do ciclo monetário - taxas de juros mais elevadas. Já para o Itaú, a XP ressaltou o forte crescimento da carteira de crédito e da margem financeira, além de um controle de despesas considerado positivo.
Já os destaques negativos, segundo a XP, vieram de Bradesco (BBDC4), cujo índice de cobertura continuou caindo sequencialmente e sua inadimplência aumentou gradualmente. O índice mede a capacidade de pagamento da dívida.
O mesmo aconteceu com Santander (SANB11), que, apesar dos resultados financeiros saudáveis no período, teve uma deterioração marginal na qualidade geral com um índice de cobertura decrescendo para 215%, escreve a XP.
O balanço do Banco do Brasil também foi interpretado como positivo pela equipe de análise de ações do BTG Pactual (BPAC11), com provisões abaixo do esperado devido ao desempenho da qualidade dos ativos e seu índice de cobertura “muito alto”. No caso do Bradesco, os analistas escrevem que, “dadas as preocupações recentes, acreditamos que há mais para gostar do que não gostar”.
“Os NPLs [créditos não produtivos, em inglês, que representam empréstimos com maior risco de inadimplência] estão em alta, o que é naturalmente uma preocupação dada a deterioração do cenário macro, e a qualidade dos lucros pode ser ‘questionada’ por alguns investidores. Mas, no geral, parece um trimestre muito mais limpo em relação ao último”, escreveu o time de análise do BTG.
Confira o lucro líquido ajustado dos quatro maiores bancos brasileiros no 1º trimestre:
- Itaú Unibanco (ITUB4): R$ 7,36 bilhões (+15% YoY, ou seja, na comparação anual)
- Bradesco (BBDC4): R$ 7 bilhões (+13,9% YoY)
- Banco do Brasil (BBAS3): R$ 6,66 bilhão (+34,6% YoY)
- Santander Brasil (SANB11): R$ 4 milhões (+1,3% YoY)
Aumento de inadimplência e provisões
Analistas observaram com atenção nesta temporada de resultados o impacto do aumento da taxa Selic. Em abril, o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 12,75% ao ano – o maior patamar para a taxa desde janeiro de 2017. A taxa estava em 2% há cerca de um ano.
Em um cenário de juros em patamares elevados e mudanças no ambiente macroeconômico, Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos, destacou a importância da taxa de inadimplência dos bancos, que subiu nos primeiros três meses de 2022 e impactou os resultados.
Segundo ele, o que mais chamou a atenção nos grandes bancos foi o aumento dos índices de inadimplência de 15 a 90 dias, que foi mais brusco que os de 90 dias, mas que podem virar atrasos de pagamento acima de 90 dias. “É importante observar que no balanço de todos os quatro bancos houve aumento na carteira de crédito, mas que o custo acabou sendo uma inadimplência mais elevada”, diz.
Outro indicador importante é o que mede as provisões para devedores duvidosos (PDD), que também tiveram aumento em todos os bancos no primeiro trimestre do ano. Olhando para frente, Gracia avaliou que uma inadimplência elevada nos próximos trimestres irá depender dos níveis de inflação e juros. “Se os juros continuarem subindo, os bancos terão um custo maior de funding – que é o custo que pagam para captar recursos no mercado – e vão tentar repassar isso para os clientes”, afirma.
Nubank e Banco Inter
Quando analisados os balanços de bancos com menor tamanho de carteira de crédito, caso do Nubank (NU) e do Banco Inter (BIDI11), Gracia ressaltou a importância de analisar o número de clientes, assim como a inadimplência.
“Se a carteira de crédito crescer demais e a inadimplência for deteriorada, isso pode afetar o crescimento, dado que boa parte da carteira pode não virar uma receita propriamente dita”, ressaltou.
No caso do Inter, por exemplo, o analista da Guide destacou que o banco teve aumento na inadimplência por causa do crescimento da carteira de crédito, mas que grande parte foi puxada pelo braço de cartão de crédito, e não pelo financiamento imobiliário, que é uma das principais linhas de receita do banco.
Ainda na análise dos balanços de bancos digitais, Gracia chama a atenção para o custo de aquisição de cliente – que, quanto menor, melhor, e a receita média por cliente, que mostra se o banco está conseguindo rentabilizar a operação com o aumento da base. Nesse caso, quanto mais alta a receita por cliente, melhor.
“Não adianta o banco ter uma base gigante de clientes e não conseguir ter uma receita maior com isso”, afirmou, destacando o forte crescimento da base de clientes tanto do Nubank quanto do Banco Inter entre janeiro e março deste ano.
No primeiro trimestre, o Inter reportou lucro líquido de R$ 27,47 milhões, alta de 31,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o Nubank teve um lucro ajustado de US$ 10,1 milhões, revertendo o prejuízo líquido de US$ 11,9 milhões do mesmo período de 2021.
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