Covid: Surto piora na China e Xangai registra mais de 26 mil casos

Economistas agora preveem que a economia da China crescerá 5% em 2022, abaixo da meta oficial prevista, de 5,5%

Consequências das restrições começam a aparecer nos indicadores econômicos chineses
Por Bloomberg News
11 de abril, 2022 | 07:36 PM

Bloomberg — O maior surto de covid-19 da China em dois anos continua a se espalhar pelo país, mesmo diante de um novo lockdown prolongado que confinou pelo menos 25 milhões de pessoas em Xangai - e com as restrições mais uma vez pesando sobre uma economia já fragilizada e sobrecarregando as cadeias de suprimentos globais.

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Foram registradas 26.087 novas infecções diárias no domingo (10) em Xangai, um novo recorde. Os moradores já estão trancados há semanas e acumulam frustrações enquanto lutam para ter acesso a alimentos e cuidados médicos.

Outras regiões, como Guangzhou, metrópole ao sul do país, decidiram implementar uma série de restrições depois que as autoridades locais alertaram que os 20 casos encontrados na semana passada poderiam ser somente a ponta do iceberg. A cidade é outro centro comercial e infecções e medidas de contenção igualmente rígidas em toda a China são um obstáculo crescente para a segunda maior economia do mundo, com consequências para o crescimento global, cadeias de suprimentos e inflação.

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A luta de Xangai contra o vírus significa que outros governos locais podem se tornar mais sensíveis a surtos e intensificar os controles de mobilidade, mesmo quando os casos são considerados baixos. Como lembra Tommy Xie, chefe de pesquisa da China no Oversea-Chinese Banking Corp., “A China precisa se preparar para mais interrupções de curto prazo nos próximos meses”, em um relatório divulgado nesta segunda-feira (11).

Economistas agora preveem que a economia da China crescerá 5% em 2022, abaixo da meta oficial prevista, de 5,5%. Analistas do Morgan Stanley reduziram suas previsões de crescimento este ano devido ao impacto dos bloqueios, enquanto o Citigroup Inc. alertou para os riscos do trimestre.

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Os caros de coronavírus na China são os maiores desde o início da pandemia, em 2020

As ações chinesas caíram nesta segunda-feira (11) com as preocupações sobre a disparada de casos. O índice Hang Seng caiu 3% em Hong Kong, assim como o índice de referência CSI 300 da China.

A desaceleração da China já provoca um efeito cascata em toda a região. A atividade entre as empresas privadas de Hong Kong caiu ainda mais em março, com os bloqueios na China pesando sobre novos contratos, segundo o índice de gerentes de compras da S&P Global. As exportações do Taiwan para a China também desaceleraram em março em relação ao mês de fevereiro.

Engarrafamento Logístico

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“O pior surto de Covid da China pode levar a atrasos e a preços mais altos, o que pode impedir a recuperação e aumentar ainda mais a inflação global”, disse Bruce Pang, chefe de pesquisa macro e estratégica da China Renaissance Securities Hong Kong Ltd.

O Índice Shanghai Shipping Exchange Shanghai (Export) Containerized Freight, de taxas de frete, caiu para 4.349 em 1º de abril, depois de um pico de 5.110 em janeiro. A queda indica uma abrandagem nas exportações, segundo Pang.

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Prevê-se que as exportações da China tenham expandido 13% em março, de acordo com economistas antes dos dados desta semana. Isso seria uma aceleração de 6,2% em relação a fevereiro, mas mais lento do que o crescimento de 30% registrado em 2021. A expectativa é que as exportações desacelerem ainda mais este ano com a reabertura de fábricas em outros países.

Os contêineres se acumulam em Xangai, o maior porto da China, já que o lockdown na cidade causou a escassez de caminhões para liberar as importações. As operações comerciais na cidade também foram praticamente interrompidas, com empresas como a gigante de chips Semiconductor Manufacturing International Corp. passando dificuldades para garantir que caminhões transportassem seus produtos.

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Muitos condomínios da cidade foram fechados no início de março e, em seguida, o trânsito na região leste foi interrompido - justamente a parte da cidade que abriga o distrito financeiro e parques industriais. Em abril, o mesmo se expandiu para parte oeste. Apesar de todas as restrições, os números de casos continuam a subir, e cerca de 95% dos novos casos agora entre pessoas já em isolamento, segundo dados do governo nesta segunda-feira (11).

Restrições afrouxadas

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Em um sinal de flexibilização provisória, as autoridades de Xangai disseram que pessoas que moram em condomínios e que não foram infectadas nas duas semanas serão liberadas do lockdown e autorizadas a circular pelo bairro. As autoridades da cidade não disseram quantas pessoas serão contempladas, mas este é o primeiro sinal de um caminho de saída em semanas.

Outras cidades do país também estão vendo um pico dos casos de covid, com 21 das 31 províncias da China reportando casos em ascensão no último domingo (10). A cidade de Wuhan, epicentro do surto há mais de dois anos, registrou 12 casos assintomáticos no domingo e anunciou na manhã de segunda-feira (11) que as moradores teriam de mostrar um teste atualizado de covid negativo para acessarem o metro, por exemplo.

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Guangzhou fechou suas escolas até 17 de abril e vai realizar testes em massa. O governo local também passou a exigir que as pessoas tenham um teste de ácido nucleico negativo antes de deixar a cidade.

Cidades em mais de 10 províncias fecharam algumas entradas e saídas de rodovias para fortalecer quem entra e quem sai, de acordo com a mídia local no sábado. Muitos postos de controle de rodovias estão parando motoristas com base em seu histórico de viagens, forçando-os a desviar do caminho.

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PMI oficial da China indica desaceleração na entrega de matéria-prima

A logística na área do rio Yangtze, em torno de Xangai, foi prejudicada, disse o Ministério dos Transportes no sábado (09), em comunicado. A autoridade ordenou que não sejam instalados postos de controle de testes de covid nas principais faixas das rodovias, para que o transporte não seja ainda mais prejudicado.

Em um sinal mais crescente de descontentamento com tais restrições, empresas europeias situadas na China pediram ao governo que aliviasse as políticas de “zero covid”, dizendo que os efeitos estavam causando “interrupções significativas” na logística e na produção nas cadeias de suprimentos em toda a China.

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E as interrupções nos negócios já aparecem em vários indicadores econômicos. A atividade fabril em março na China caiu para seu pior nível desde o início da pandemia, há dois anos, de acordo com o Caixin Manufacturing Purchasing Managers’ Index, números de uma pesquisa privada com foco em empresas menores voltadas para a exportação. O PMI oficial também indicou uma contração nos setores de manufatura e serviços em março.

A atividade manufatureira da China voltou a recuar

O impacto no consumo também mostrou piora. Os dados de segunda-feira (11) mostraram uma queda de 10,9% nas vendas de veículos em março em relação ao ano anterior, depois de um ganho de 4,7% em fevereiro.

A receita do turismo durante o festival Qingming, feriado nacional de três dias na semana passada, caiu 31% em relação ao ano passado, para 18,8 bilhões de yuans (US$ 3 bilhões), segundo dados oficiais. Isso equivale a 39% do nível pré-pandemia em 2019, disse o Ministério da Cultura e Turismo.

Pressões nos preços

Os bloqueios também aumentaram os preços dos vegetais, que subiram 17,2% no ano em março, em comparação com uma queda de 0,1% em fevereiro. Além disso, há uma preocupação crescente de que as restrições de mobilidade estejam ameaçando o plantio de culturas na região Nordeste, a mais importante fonte de arroz, soja e milho do país.

Isso significa que “o risco de escassez de alimentos pode aumentar no segundo semestre, adicionando mais pressão ao agravamento da escassez global de alimentos causada pelo conflito militar em curso na Ucrânia”, disseram economistas da Nomura Holdings Inc. liderados por Lu Ting em nota. O aumento da inflação dos preços de alimentos e energia pode limitar o espaço para o Banco Popular da China cortar as taxas de juros, apesar da economia em rápida deterioração, escreveu Nomura.

– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.

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