Bloomberg — Algo que pouco importava na era de taxas de juros próximas de zero agora ressurge das cinzas do mercado de títulos dos Estados Unidos: os pagamentos que os investidores do Tesouro recebem duas vezes por ano.
Os cupons deixaram de importar quando o valor dos títulos subia devido ao enorme estímulo monetário e às forças econômicas que levaram rendimentos a mínimas históricas.
Mas agora isso está se revertendo à medida que a inflação dispara e o Federal Reserve aperta a política monetária.
Os pagamentos de juros fixos sobre novos títulos do Tesouro americano vêm aumentando junto com as taxas de mercado, dando aos compradores uma proteção significativa contra liquidações que levaram investidores a amargarem as maiores perdas em décadas.
Tome como exemplo o leilão de US$ 46 bilhões em títulos do Tesouro de três anos na segunda-feira (11). Os títulos foram vendidos com cupom de 2,625%. Em fevereiro de 2021, era de apenas 0,125%.
“Estamos realmente chegando a uma era de renda fixa mais tradicional, na qual deter um título com renda fixa é bastante atraente”, disse Jerome Schneider, chefe de gestão de carteira de curto prazo da Pimco. “Isso dá uma amortecida” que “compensa qualquer margem para movimentos de baixa no preço daqui para frente”.
Os pagamentos crescentes refletem as expectativas generalizadas de que o Fed deve realizar o maior aumento de taxas de juros desde 1994 e retirar liquidez do mercado ao cortar suas participações em títulos.
Os operadores de derivativos do mercado monetário apostam que o Fed elevará a taxa básica para até 2,5% até o final do ano e a levará a um pico de cerca de 3% em junho de 2023, contra 0,25-0,5% atualmente.
Essa perspectiva derrubou os preços dos Treasuries, levando-os a uma perda de 7,3% este ano, mesmo após a ligeira recuperação desta semana. Isso é muito mais do que os títulos perderam em qualquer ano inteiro desde o início dos dados em 1973, segundo indicador da Bloomberg.
O salto no valor dos cupons não é suficiente para apagar esse baque. Mas os analistas da Bloomberg Intelligence Ira F. Jersey e Angelo Manolatos estimam que os pagamentos mais altos em títulos de curto e médio prazo podem permitir que o índice do Tesouro registre um “pequeno retorno positivo” até o primeiro trimestre de 2023.
David Bianco, diretor de investimentos para as Américas da DWS, disse que os rendimentos do Tesouro de dois e três anos “parecem justos” nos níveis atuais, considerando o nível estimado da taxa básica do Fed ao longo da vida útil dos títulos.
No entanto, os pagamentos de juros não resolvem todos os problemas, e seu valor ainda está sendo rapidamente corroído pela inflação.
O índice de preços ao consumidor na terça-feira (12) mostrou que a inflação acelerou para 8,5% nos 12 meses até março, mais de três vezes a taxa de juros dos títulos do Tesouro de dois anos.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
- Ibovespa recua com commodities e dólar sobe a R$ 4,71
- Investidores fazem ‘hedge bilionário’ contra risco de estagflação
©2022 Bloomberg L.P.