Consolidação de gestoras deve se acelerar com juros altos, aponta estudo

Ambiente mais desafiador para captação e aumento da concorrência reforçam tendência de M&A entre assets e bancos, segundo análise da XP

No ranking das gestoras no mercado brasileiro por patrimônio, BB DTVM, Itaú Unibanco e Bradesco encabeçam o grupo
31 de mayo, 2022 | 01:58 PM
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Bloomberg Línea — Depois do boom de novas gestoras no mercado brasileiro nos últimos anos, a indústria de fundos experimenta uma aceleração do movimento de consolidação. É um novo fenômeno que, segundo especialistas, deve se mostrar uma tendência no mercado de capitais brasileiro. E que começa a ganhar novos contornos.

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O mercado brasileiro possui quase 830 instituições financeiras e assets (termo em inglês como as gestoras são conhecidas também), com patrimônio líquido total da ordem de R$ 7 trilhões. São mais de 27.100 fundos de investimento, um número que cresceu quase 90% nos últimos cinco anos.

Apenas em 2021, foram 31 transações de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês), quase um terço de um volume que chegou a 95 desde 2005, segundo dados de um levantamento realizado pela equipe de fundos da XP Investimentos (XP) e divulgado com exclusividade pela Bloomberg Línea.

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A evolução é evidente. O número de operações de M&A entre assets e destas com instituições financeiras, que somaram apenas cinco casos em 2019, mais do que duplicaram em 2020, até totalizarem os 31 em 2021, segundo o levantamento. Neste ano, até maio, somam-se nove eventos. São os casos, por exemplo, da aquisição minoritária da Absolute Investimentos pelo BTG Pactual (BPAC11) e das fusões da Jive Investiments com a Mauá Capital e da Quadra Capital com a Canvas Capital.

No período analisado, a XP e a XP Asset lideram como parceiros estratégicos em número de eventos, com um total de 13 entre aquisições minoritárias – como AZ Quest, BlueMacaw, Suno e Capitânia –, e majoritárias, caso do Habitat Capital Partners e do Vista Real Estate.

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Na sequência aparece o BTG Pactual, com nove eventos, quase todos realizados em 2021. Foi o caso da incorporação da Vitreo – por meio do grupo Universa, dono também da Empiricus, maior casa de análise do país – e das aquisições minoritárias da Kawa Capital, da Canuma Capital e da Perfin.

“Quanto mais gestoras no mercado, mais competitiva é a captação de recursos. É uma tendência que vimos lá fora e que deve se replicar aqui. Isso aumenta a dificuldade de players menores em crescer, levando a um movimento de consolidação e incorporações”, diz Davi Fontenele, analista de fundos de investimentos da XP e responsável pelo levantamento.

Fontenele chama a atenção para o nascimento de gestoras a partir de 2016 no contexto do movimento gradual de queda da taxa Selic, que passou de 14,25% naquele ano para 2% ao ano no início de 2020. Isso contribuiu para que as assets captassem recursos, com novos investidores aprendendo a importância da diversificação do portfólio. Agora o cenário é mais desafiador, com juros e inflação nas alturas, o que amplia a atratividade de ativos de renda fixa, com risco menor e rentabilidade na casa de dois dígitos.

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O levantamento faz o mapeamento a partir de 2005, ano da aquisição das operações de gestão de recursos do Citigroup pela Western Asset, e traz eventos de consolidação de gestoras.

No ranking das gestoras no mercado brasileiro por patrimônio, BB DTVM, Itaú Unibanco e Bradesco encabeçam o grupo, com cerca de R$ 1,5 trilhão, R$ 800 bilhões e R$ 543,7 bilhões, respectivamente, segundo dados compilados pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

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Outras grandes que aparecem no topo da lista são Opportunity, Kinea Investimentos, SPX Capital, Pátria Investimentos, Verde Asset, Vinci Partners e Western Asset.

Programas de incentivo

Em junho de 2021, o Itaú lançou uma iniciativa para o desenvolvimento de assets independentes chamada “Rising Stars”. Por meio de um fundo multimercado, investidores profissionais (isto é, aqueles com patrimônio investido acima de R$ 10 milhões) podem participar do crescimento financeiro de gestoras. Os recursos são direcionados tanto para seed money quanto para capital de giro das casas.

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Até o momento, participaram desse programa as assets Vinland Capital, Ace Capital, BlueLine e TNAX. O fundo “Rising Stars” encerrou o período de captação (junho a agosto de 2021) atingindo cerca de R$ 770 milhões em aportes realizados por clientes pessoas físicas e institucionais do Brasil e do exterior.

O Credit Suisse também possui um programa semelhante de aceleração de gestoras, com investimentos que variam de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões, permitindo que as assets ganhem tamanho para entrar mais rapidamente no horizonte de grandes investidores institucionais e alocadores. Dentre as assets investidas está a Norte, de Gustavo Salomão, e a Helius Capital, liderada por William Leite, ex-analista de ações da Verde.

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Capitalização pela bolsa

Nesse ambiente mais desafiador para alocação de recursos, o movimento de consolidação das gestoras deve continuar se acelerando, segundo Fontenele, principalmente quando comparado à indústria de assets nos Estados Unidos.

“Lá fora vemos diversos players listados em bolsa, com estratégia de crescimento via M&A, seja para expandir a base de clientes, intensificar a força de distribuição, explorar sinergias, captar mais ou para atuar em um nicho específico que a gestora não tinha antes”, afirma.

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E completa: “No exterior, os grandes players continuam a ficar cada vez maiores, enquanto os pequenos buscam especialização e uma capacidade de geração de alfa diversificada [de gerar retornos acima da média de mercado]. O player de tamanho mediano, contudo, acaba ficando de lado e tem um desses dois caminhos para escolher.”

Fontenele cita como exemplo duas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), ambas na Nasdaq, no ano passado das gestoras Vinci Partners (VINP) e Pátria (PAX), que possuem grande parte dos ativos sob gestão em investimentos alternativos. Ele avalia que, à medida que as gestoras brasileiras evoluam, com bases de clientes mais perenes e capital de longo prazo, esse movimento de buscar mais capital por meio de listagem em bolsa deve acontecer com outros nomes.

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Gestoras de nicho

Com o aumento da concorrência e o cenário mais difícil para captação, a criação de gestoras deve ser orientada cada vez mais pela especialização, avalia Denis Morante, sócio-diretor da Fortezza Partners, uma assessoria para operações de fusões e aquisições.

“Não acho que o movimento de profissionais montando gestoras desapareça, mas vai ser cada vez mais pontual dado que, conforme aumenta a quantidade [de gestoras], mais difícil será construir um diferencial’', afirma.

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Segundo ele, é um movimento de ciclos. A barra, contudo, vai subindo e passa a ser necessário ter mais competência e algo “excepcional” para se destacar no mercado.

Sobre o movimento de grandes nomes do mercado como XP, Itaú (ITUB4), BTG Pactual e Credit Suisse (CS) de terem participação em gestoras, Morante destaca a vontade das assets de aumentar o potencial de acesso a recursos, bem como os ganhos em aspectos de governança, institucionalizando o negócio.

O charme da asset é o gestor ser dono do próprio negócio, por isso vemos menos aquisições majoritárias. Além disso, não é interessante intervir a ponto de o gestor perder o gosto de ser independente”, afirma.

Para o especialista, o movimento de consolidação das gestoras é positivo, ainda mais quando acontece por meio de parcerias estratégicas. “É um ganha-ganha para todo mundo. É benéfico para a gestora, que fica mais institucionalizada e com melhor governança; e para as grandes instituições, que dificilmente conseguirão desenvolver algumas estratégias [de investimento por meio de fundos] dentro de casa.”

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.

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