Conheça a rede social considerada ‘o Instagram, mas casual’

Premissa do aplicativo é mostrar “a vida como ela é”, em contraste com o uso exacerbado de filtros no Instagram

“Depois de ficar cansado e irritado nas mídias sociais, decidi lançar a minha própria rede”, conta o fundador da empresa
Por Carly Wanna
08 de mayo, 2022 | 03:08 PM

Bloomberg — Um belo dia, por volta das 22h, Sukhmani Kaur, estudante da Universidade da Pensilvânia, viu duas de suas amigas receberem uma notificação chamativa em seus telefones. “Hora do BeReal”, dizia o texto. Em resposta, rapidamente tiraram selfies e fotos do jantar, que logo depois compartilharam online. Quando Kaur perguntou o que estavam fazendo, elas explicaram que estavam usando uma nova rede social chamada BeReal. Kaur imediatamente decidiu baixar o aplicativo também.

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O BeReal, que se comercializa como uma plataforma de mídia social mais autêntica, está rapidamente ganhando popularidade nas universidades dos Estados Unidos com base em uma premissa simples. “Você deve mostrar seu eu verdadeiro”, disse Kaur.

Em horários variados todos os dias, os usuários do BeReal recebem uma única notificação em massa, solicitando que tirem duas fotos – simultaneamente tiradas pelas câmeras frontal e traseira de seus smartphones. Os usuários têm dois minutos para tirar as fotos, que então são compartilhadas com seus seguidores no aplicativo. As pessoas que perdem a notificação podem postar com atraso, mas essas imagens são marcadas visivelmente por estarem atrasadas. Para ver as contribuições de seus seguidores, um usuário deve primeiro publicar suas próprias fotos.

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Não há filtros nem “curtidas”. A ideia é que, ao dar aos usuários um prazo curto, eles não tenham tempo para tirar a foto perfeita. As pessoas podem posar ou arrumar o cabelo rapidamente, mas na maioria das vezes os usuários são compelidos a compartilhar o que está acontecendo em suas vidas naquele momento, não importa o quanto seja um momento prosaico ou sem glamour. Na loja de aplicativos, o BeReal cumprimenta novos usuários com um lema conciso: “O BeReal mostra a vida real e sem filtros”.

A empresa com sede em Paris por trás do BeReal foi cofundada por Kévin Perreau e Alexis Barreyat. Ela arrecadou fundos de diversas empresas de capital de risco dos Estados Unidos, incluindo a Andreessen Horowitz, a Accel Partners e a DST Global, que liderou uma rodada da Série A de US$ 36,6 milhões que terminou em junho de 2021. Perreau não quis dar entrevistas, e Barreyat não quis falar à Bloomberg News por meio de um representante. De acordo com uma história recente publicada no site Protocol, para criar o BeReal, Barreyat se inspirou no estilo artificial e excessivamente bem cuidado dos influenciadores, que ele via constantemente nas redes sociais durante um trabalho anterior como produtor de vídeo da GoPro.

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“Depois de ficar cansado e irritado nas mídias sociais, decidi lançar a minha própria rede”, escreveu Barreyat em uma publicação em seu perfil no LinkedIn.

O aplicativo, lançado em 2020, ganhou popularidade pela primeira vez na França, onde foi desenvolvido. Nos últimos meses, o aplicativo decolou nas universidades americanas. Recentemente, jornais estudantis documentaram a ascensão do aplicativo em seus campi. Entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, o BeReal obteve cerca de 4 milhões de downloads globalmente na App Store e no Google Play, segundo dados da Sensor Tower. Quase 30% ocorreram em fevereiro de 2022.

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Popularidade do BeReal nas universidades

Alguns usuários acham que as selfies sem filtros e as fotos espontâneas de amigos no BeReal oferecem um retrato mais realista de suas vidas em comparação ao que normalmente é visto em outras plataformas. “Às vezes é meio irritante olhar as redes sociais”, disse Jennifer Lindley, estudante da Lehigh University. Ela disse que está cansada ver “essas coisas ensaiadas que sabemos que não são reais”.

No ano passado, uma pesquisa interna do Instagram vazada revelou que os adolescentes geralmente associam o aplicativo a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e distúrbios alimentares. A abordagem da BeReal parece ter sido projetada para incentivar as pessoas a se sentirem bem consigo mesmas. O estudante da Northeastern University, Sean McGuire, diz que o BeReal é uma “maneira elegante de desconstruir o lado formal e falso das mídias sociais”.

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Para muitos usuários, o BeReal também ocupa menos tempo do que seus rivais mais estabelecidos. Katie So, da Universidade de Yale, disse que passa duas ou três horas por dia navegando pelo Instagram, mas passa menos de uma hora no BeReal, tirando suas fotos diárias e olhando as fotos de seus amigos. No BeReal, os usuários podem enviar fotos de reação e emojis para as publicações de seus amigos. Também é possível fazer comentários.

“Os formatos de rede social são praticamente iguais”, disse So. “Quando surge algo novo assim, eu quero experimentar”.

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O BeReal pode ser apenas mais uma modinha. Aplicativos que oferecem um único recurso básico “geralmente não duram”, disse Alice Marwick, cofundadora do Centro de Informação, Tecnologia e Vida Pública da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.

“Com que frequência você vai ficar publicando fotos tediosas de si mesmo?” disse Amanda Lenhart, pesquisadora do Data & Society, um instituto de pesquisa independente.

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Ver mais: Instagram está preocupado com retenção e engajamento de adolescentes

Se a popularidade do BeReal continuar crescendo, há uma boa chance de empresas maiores de mídia social tentarem replicar suas características únicas, disse Marwick. Anos depois que o Snapchat recusou uma oferta de aquisição multibilionária do Facebook, a empresa de Mark Zuckerberg lançou o recurso “Stories”, que trazia um formato semelhante ao da empresa rival. Em 2020, o Instagram lançou o recurso de vídeo Reels, praticamente uma cópia do TikTok.

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Enquanto isso, o BeReal parece estar se adaptando a um grupo demográfico aberto a tentar algo novo. De acordo com dados internos da empresa de março de 2021, o Facebook vem perdendo popularidade entre adolescentes e jovens adultos. Uma pesquisa da Pew Research de 2021 constatou que, embora o Facebook seja popular entre pessoas de 30 a 49 anos, em relação aos usuários mais velhos, um número cada vez maior de adultos mais jovens prefere o Snapchat e o Instagram, que pertence à controladora do Facebook, a Meta Platforms (FB).

Por enquanto, o BeReal está focando no mesmo habitat que o Facebook conquistou há muito tempo: a vida universitária. O Programa de Embaixadores da BeReal paga para que os alunos promovam o aplicativo em seus campi por meio de eventos e festas patrocinados.

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Lindley, da Lehigh, não esperava se tornar uma usuária tão assídua quando baixou o aplicativo há dois meses. Mas ela gosta que o BeReal pareça genuíno e não ocupe muito do seu tempo. Ela gosta principalmente do aspecto rotineiro de tirar fotos uma vez por dia. Há uma “satisfação em fazer isso apenas uma vez”, disse Lindley.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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