Bloomberg Línea — A Lava Jato chacoalhou o mercado de construção civil na América Latina. As grandes construtoras brasileiras, responsáveis por importantes obras de infraestrutura na região, foram duramente impactadas pela investigação e se viram obrigadas a dar um passo atrás e ceder espaço para um novo grupo de concorrentes. Grupos tradicionais, mas de menor porte, tentam preencher o vácuo deixado pelas gigantes do setor.
A Odebrecht, por exemplo, rebatizada como Novonor, chegou a ter operações ou representações em 21 países da América Latina em 2017. Hoje, está presente em 11. A Andrade Gutierrez, que já marcou presença em 17 países da região, está atualmente em oito.
Uma das empresas que tem buscado ocupar mais espaço na região é a Concremat. Na prática, a empresa tem funcionado como a porta de entrada da gigante chinesa da construção China Communications Construction Company (CCCC) na América Latina desde 2017. Naquele ano, a CCCC adquiriu por R$ 350 milhões 80% da empresa brasileira que, até então, estava presente apenas na República Dominicana e tinha apenas 4% da sua receita gerada a partir de operações fora do Brasil.
“Atualmente, estamos em cinco países da América Latinae 8% da receita é gerada a partir dos negócios internacionais. Acreditamos que nos próximos dois anos esse percentual chegará a 15%”, afirma Eduardo Viegas, vice-presidente de desenvolvimento de negócios e marketing da Concremat. O executivo faz parte da terceira geração da família fundadora da empresa, que ainda permanece na operação, mesmo tendo vendido o controle do grupo para a CCCC.
A companhia registrou um faturamento de R$ 795 milhões no ano passado, o que representou um incremento de 20% da receita sobre o ano anterior. Para este ano, a expectativa é que a receita se aproxime da casa de R$ 1 bilhão, em parte suportado pelo crescimento dos negócios na América Latina. Na região, a empresa presta serviços de engenharia nas obras da primeira planta de tratamento de esgoto do Paraguai, de rodovias na Bolívia e no Peru e de uma barragem na República Dominicana.
Segundo Viegas, tanto no Brasil quanto na América Latina, uma das principais apostas da empresa é no segmento de saneamento básico. Contudo, ele considera que marcos regulatórios importantes foram definidos nos últimos três anos nas áreas de óleo e gás, bem como logística. “As ferrovias e rodovias são muito importantes para a região. O setor foi muito esmagado nos últimos anos e o nível de investimento está muito aquém do que precisaria e muito longe do patamar de 12 anos atrás”, afirma. Mesmo com as idas e vindas na direção da Petrobras, a expectativa é que a empresa inicie um novo ciclo de investimentos, aproveitando o momento de alta dos preços do petróleo no mercado internacional.
Falta engenheiros no mercado
Apesar do cenário promissor e ambiente de investimento favorável, um ponto ainda pode atrasar uma retomada mais agressiva de aportes no setor de construção: engenheiros. Segundo Viegas, seja no Brasil ou na América Latina, falta mão de obra qualificada, especialmente para projetos que exigem uma especialização maior, como saneamento e barragens. “Muitos engenheiros mais velhos aproveitaram os últimos anos de baixa demanda para se aposentar. Os mais jovens acabaram migrando para outras profissões. E agora, que existe uma janela de oportunidade, a oferta de profissionais qualificados está muito menor”, afirma Viegas.
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