Como o Brasil se prepara para a chegada da varíola dos macacos

Anvisa nega ter recomendado isolamento, enquanto o Ministério da Saúde cria uma Sala de Situação

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São Paulo — O Brasil, importante exportador de produtos agrícolas e commodities, começou a monitorar o cenário da varíola dos macacos, que se torna a cada dia motivo de preocupação mundial. O setor de logística e comércio exterior do país acompanha, com apreensão, a evolução dos casos fora do país, temendo possíveis impactos nos procedimentos e rotinas das companhias, segundo a Logcomex, startup de soluções de big data e automação para o setor.

Na segunda-feira (23), o Ministério da Saúde criou uma Sala de Situação para monitorar a doença viral endêmica no continente africano, com transmissibilidade moderada entre humanos. Até o momento, não há notificação de casos suspeitos da doença no país.

“A medida tem como objetivo elaborar um plano de ação para o rastreamento de casos suspeitos e na definição do diagnóstico clínico e laboratorial para a doença.

A vigilância de doenças com potencial para emergência em saúde pública é monitorada pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Nacional), que atua de forma permanente, detectando informações 24 horas por dia”, informou a pasta em comunicado.

A experiência com a pandemia da covid-19, decretada em março de 2020, serve para tornar a varíola dos macacos um ponto de atenção de exportadores e importadores no Brasil.

A pandemia de covid-19 fez com que o setor de logística e comércio exterior ficassem atento as questões sanitárias dos países, por isso, em um primeiro momento a varíola dos macacos assusta”, comentou Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex, startup que oferece soluções de big data e automação para o segmento de comércio exterior.

Questionado se há uma região que mereça mais preocupação, Hofstatter disse que chama a atenção a evolução dos casos na Europa e a possível chegada da América do Sul. “O ideal é acompanhar e entender a evolução dos casos, procurando fontes científicas para isso”, afirmou o CEO da Logcomex.

Por enquanto, o setor agrícola ainda não recebeu nenhuma notificação do Ministério da Agricultura sobre alguma restrição aos embarques brasileiros. É o que diz o CEO da Agrícola Famosa, uma das maiores exportadoras de frutas do Brasil, Luiz Roberto Barcelos, que integra a Abrafruta (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados).

“A doença não foi ainda detectada no Brasil, mas com certeza vai acabar acontecendo [registro de caso]. É complicado porque nem saímos de uma pandemia e já podemos entrar em outra crise sanitária”, comentou o empresário.

O setor de turismo, que está em processo de recuperação do faturamento após mais de dois anos de pandemia da covid, também acompanha a situação da varíola dos macacos. “Ainda é muito cedo para falar o que vai acontecer ou quando a situação estará resolvida. Temos de esperar. Não podemos ser alarmistas”, disse o presidente da Braztoa, entidade que reúne mais de 50 operadoras de turismo no Brasil, Roberto Haro Nedelciu.

Isolamento

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou, na terça-feira (24), que tenha recomendado isolamento como medida para o enfrentamento à varíola dos macacos, desmentindo notícias sobre uma nota emitida pelo órgão no dia anterior.

A Anvisa apenas reforçou a adoção das medidas já vigentes em aeroportos e aeronaves destinadas a proteger o indivíduo e a coletividade não apenas contra a covid-19, mas também contra outras doenças”, disse a agência em nota publicada no fim da tarde.

A nota cita que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a varíola dos macacos pode ser transmitida aos seres humanos através do contato próximo com uma pessoa ou animal infectado, ou com material contaminado com o vírus. “O vírus pode ser transmitido de uma pessoa para outra por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama”, detalha a agência.

Mesmo negando ter recomendado o isolamento, a Anvisa diz que atua seguindo as ações de organismos de saúde mundiais e que “tão logo se justifique serão propostas as medidas sanitárias quando cabíveis, em aditamento às regras existentes e vigentes no Brasil”.

A agência brasileira acrescentou que “autoridades de referência como o CDC dos EUA e a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido apontam que a transmissão do vírus ocorre, preferencialmente, por meio da pele lesionada (mesmo que não seja visível), mas também do trato respiratório ou das membranas mucosas (olhos, nariz ou boca). Nesse sentido, a prevenção e a cautela para evitar a transmissão da infecção por vias respiratórias e de contato são indicadas, assim como o cuidado no manuseio de roupas de cama, toalhas e lençóis utilizados por uma pessoa infectada. A higiene das mãos em ambos os casos é recomendada”, informou a Anvisa.

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