Colômbia escolhe presidente entre dois candidatos apontados como populistas

Rodolfo Hernández, visto como pró-mercado, e Gustavo Petro, de esquerda e ex-prefeito de Bogotá, disputam o segundo turno; resultado deve sair à noite

Gustavo Petro (à esquerda) e Rodolfo Hernández disputam neste domingo (19) o segundo turno da eleição presidencial na Colômbia
19 de junio, 2022 | 10:07 AM

Bloomberg Línea — Às 8 horas da manhã (no horário local, ou 10h de Brasília), as urnas foram abertas na Colômbia para que o próximo presidente seja eleito. Os candidatos que chegaram ao segundo turno representam o voto anti-sistema, mas também são reconhecidos como populistas, embora de diferentes correntes.

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Embora o histórico empresarial de Rodolfo Hernández o faça ser visto como um candidato pró-mercado, vários especialistas questionaram muitas de suas propostas para os próximos anos porque parecem não ter respaldo fiscal, ou seja, não haveria recursos no orçamento para viabilizá-las.

Por outro lado, Gustavo Petro, ex-líder guerrilheiro de esquerda que depôs as armas há mais de 30 anos, é senador há vários anos e também foi prefeito da capital Bogotá. Entre suas propostas, há várias que preocupam os eleitores porque vão gerar gastos do Estado e aumentar o seu tamanho.

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Para entender por que os dois estão associados a posições populistas, é preciso partir do princípio de que populismo se refere a uma posição política que busca falar em nome do povo e defender seu interesse comum de supostos inimigos.

Sob essa alegação, os populistas tentam reprimir a oposição e ignorar os limites de seus mandatos. São regimes que tendem a adotar uma postura populista em todas as suas plataformas, mas nem sempre.

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Eles podem ter essa agenda em algumas questões e uma visão ortodoxa em outras. Os populistas podem se inclinar para o liberalismo ou o conservadorismo e ter um viés de esquerda ou direita.

Uma das questões que chama a atenção em relação aos dois candidatos é a capacidade de formar uma equipe. No passado, quando foram prefeitos, Petro em Bogotá e Hernández em Bucaramanga, tiveram dificuldades de relacionamento com seus secretários, incapazes de ouvir especialistas técnicos sobre diferentes temas.

A esse respeito, Germán Camilo Prieto, professor adjunto do Departamento de Relações Internacionais da Faculdade de Ciência Política e Relações Internacionais da Javeriana, disse que Hernández “demonstrou desconhecimento do funcionamento do Estado e também uma deficiência técnica. "

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Sobre seu temperamento e sua capacidade de se relacionar com as instituições caso encontre entraves para executar seu programa de governo, Prieto diz que “o que preocupa não é o que ele faz com as instituições, mas sim que o faz com um alto grau de nível de populismo - e com certeza ele terá o apoio de muitas pessoas fazendo essas coisas com pontapés e de qualquer jeito.

Apesar disso, o professor xaveriano garante que as instituições colombianas são sólidas o suficiente para resistir às investidas de um presidente popular. “Acho que o quadro institucional na Colômbia é forte o suficiente para um presidente querer derrubá-lo ou pular essa resistência.”

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“Note-se que, nos dois mandatos de Álvaro Uribe, que também tentou desestruturar o quadro institucional, houve muitas coisas que ele não pôde fazer porque os tribunais o impediram, e o Congresso e os órgãos de controle fizeram o mesmo em outras questões. E Uribe estava muito mais preparado e era muito mais conhecedor do funcionamento do Estado; Hernández, por outro lado, não é”, disse.

Onda populista em outros países

Da mesma forma, Felipe Hernández, da equipe da Bloomberg Economics, diz que “os populistas buscam minar outros poderes do Estado e os partidos políticos que contestam suas ações. Eles também buscam um maior controle da mídia para minimizar as críticas e controlar a fala. Muitos tentam prolongar seu governo, geralmente à custa de processos eleitorais transparentes”.

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Além disso, o especialista da Bloomberg Economics diz que “uma onda de populismo varreu quatro das maiores economias da América Latina nos últimos quatro anos, em meio ao crescente descontentamento com a política usual e a distribuição de renda, tudo isso exacerbado pela pandemia. O cenário político na região é preocupante. O populismo é inerentemente ruim para as instituições democráticas.”

Da mesma forma, Wilson Tovar, chefe de Pesquisa Econômica da Acciones y Valores, lembra que “o caso de Petro e Hernández é mais do que já vimos. Aconteceu com [Gabriel] Boric no Chile, e [Pedro] Castillo no Peru, e do outro lado com [Jair] Bolsonaro no Brasil. Os políticos tradicionais não perceberam que não podem voltar ao cenário pré-pandemia porque as pessoas querem mudanças e, além disso, neste momento as pessoas estão tentando se levantar do que aconteceu”.

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Felipe Hernández complementa dizendo que “as perspectivas econômicas também estão em perigo, já que a incerteza política costuma ser um entrave ao investimento e ao crescimento. Alguns populistas adotaram políticas fiscais e monetárias responsáveis, trazendo alívio e limitando as desvantagens de curto prazo. Mas a tendência crescente de mais intervenção do governo é um risco para o crescimento e para a economia em geral no longo prazo”.

Um dos grandes problemas que o próximo presidente enfrentará, independentemente de quem vença, é a falta de maioria no Congresso. O Pacto Histórico, ligado ao candidato Gustavo Petro, é a principal força no Senado e na Câmara, mas em nenhum caso tem votos suficientes para aprovar leis sem precisar do apoio de outros partidos. Hernández, por sua vez, não tem uma bancada que lhe forneça sustentação no Congresso, apesar de no segundo turno ele ter recebido o apoio de vários partidos tradicionais.

“Quem tem votos suficientes no Congresso se sente à vontade para usá-los para fazer as reformas necessárias para consolidar seu poder. Aqueles com amplo apoio popular o usam para pressionar os legisladores ou usam referendos para promover mudanças e legitimar suas ações. Uma vez que o poder está consolidado, a mudança de regime pode ser cada vez mais difícil”, conclui Hernández.

Daniel Guerrero

Periodista y máster en comunicación política y estratégica. Especializado en periodismo económico. Anteriormente coordinador editorial de la agencia de noticias Primera Página y ex periodista macro en el diario Portafolio.

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