Bloomberg — Para os super-ricos que vivem em algumas das cidades mais caras do mundo, como Xangai e Hong Kong, os preços cada vez mais altos dos itens de luxo ao longo do ano passado corroeram uma parte de seu vasto poder aquisitivo. Em São Paulo, a cesta de consumo dos super-ricos - conhecidos como high-net-worth individuals - disparou 27% no último ano e teve uma das maiores altas globais.
Na cesta de consumo de produtos e serviços dos super-ricos, o custo de produtos tecnológicos como notebooks e smartphones em todo o mundo foi o que mais aumentou – 41% –, impulsionado pela mudança para o trabalho remoto e pela escassez global de chips. Contratar um advogado ficou 33% mais caro, enquanto os preços das bicicletas subiram 30%. Voos em classe executiva aumentaram 24%, e jantares com menu degustação em restaurantes estrelados ficaram 26% mais caros.
Por outro lado, o preço do vinho caiu 26% – mais do que qualquer outra categoria.
Os dados fazem parte do mais novo relatório do Julius Baer Group sobre riqueza global e estilo de vida, que classifica as 24 cidades mais caras do mundo segundo o custo de propriedades residenciais, carros, passagens aéreas, negócios, escolas e outros luxos. A alta global da cesta foi de 7,46%, com notável aceleração em relação ao avanço de apenas 1,05% na edição anterior do estudo.
A capital paulista saltou da 21ª para a 12ª colocação na lista das cidades mais caras do mundo para os mais ricos, em razão da combinação da inflação local, impostos e tarifas de importação de produtos.
O relatório da tradicional gestora de patrimônio da Suíça analisou os preços de cerca de 20 produtos e serviços normalmente consumidos por indivíduos com US$ 1 milhão ou mais em ativos em 24 cidades. Os dados foram coletados em duas rodadas entre novembro e abril. Moscou foi removida da lista.
Para os ricos de Londres e Nova York, por outro lado, o custo mais alto de bolsas, sapatos, ternos e relógios de grife nem sequer acompanha as taxas de inflação de seus países, o que mostra que a inflação tem afetado os milionários em diferentes magnitudes ao redor do mundo.
Xangai mais uma vez lidera a lista, ao passo que Londres fisgou o segundo lugar de Tóquio, que despencou o maior número de posições, agora na oitava posição. Nova York ficou em 11º lugar, caindo uma posição em relação à pesquisa do ano passado, à frente de São Paulo, que figura na 12ª posição.
Veja abaixo a lista da Julius Baer Group:
Os dados em geral destacam que os ricos não estão imunes à inflação mais alta em décadas – que atingiu 8,6% nos Estados Unidos e 9% no Reino Unido nas taxas anuais mais recentes –, ainda que eles tenham maior capacidade de resistir aos seus efeitos do que os menos abastados.
Além disso, os ricos também possuem patrimônio em propriedades e ações, ainda que estas tenham “derretido” nos últimos meses com o aumento das taxas de juros por parte dos bancos centrais para conter o aumento dos preços. Somente as 500 pessoas mais ricas do mundo perderam um total de US$ 1,4 trilhão de suas fortunas acumuladas este ano, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
“Embora a situação financeira de muitos indivíduos de alta renda tenha realmente melhorado no último ano, o aumento simultâneo na cesta de produtos e serviços que compõem nosso índice de estilo de vida significa que a ‘ilusão de dinheiro’ dos anos anteriores ainda persiste”, aponta o relatório do Julius Baer, que foi divulgado nesta quarta-feira (15).
Ainda assim, “nossa pesquisa revela uma perspectiva levemente otimista para o pós-pandemia”, diz o documento. “Os ricos estão gastando normalmente de novo.”
“A contínua incerteza global, provocada pela pandemia e sustentada pelo aumento da inflação e da tensão geopolítica, apenas acentuou a necessidade de os investidores protegerem seu poder de compra e, a longo prazo, planejarem ativamente preservar seu patrimônio”, disse Nicolas de Skowronski, chefe de soluções de gestão de riqueza (wealth management) da Julius Baer.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
--Com a Bloomberg Línea
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