Bloomberg Línea — A sessão do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, por 10 votos a zero, o relatório favorável à cassação do deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei (ex-Podemos), que disse em um áudio vazado que as mulheres ucranianas, fugindo da guerra, “são fáceis porque são pobres”.
A unanimidade da votação refletiu o isolamento do youtuber do MBL (Movimento Brasil Livre), que foi eleito em 2018 com mais de 400 mil votos.
Com um mandato marcado pelo estilo provocador de fazer política, Mamãe Falei conseguiu o feito de unir bolsonaristas, tucanos, petistas e os que se dizem do centro político contra a sua permanência na Casa.
Durante algumas horas na tarde desta terça, os deputados esqueceram as desavenças ideológicas para se revezar, na sessão, ora criticando o teor da fala do deputado sobre as mulheres ucranianas, ora espinafrando-o, com raiva.
O bolsonarista Gil Diniz, o Carteiro Reaça (PL), foi o mais exaltado: “Você não é só um anão físico, é também um anão moral”.
E depois complementou com “palhaço”, “playboy”, “vagabundo”, “covarde”. Teve de ser contido pelos colegas.
O lulista Teonílio Barba (PT), vaticinou que “o Arthur não tem caráter”.
Valéria Bolsonaro (PL, parente distante do presidente), invocou as duas filhas para descrever o que sentiu ao ouvir o áudio sobre as ucranianas: “Tive um sentimento de asco. Como mãe, eu morreria se uma filha minha chegasse perto de uma pessoa dessas.
Campos Machado (Avante), mais longevo deputado em atividade (está na Casa desde 1987), foi fiel ao seu estilo de raposa política: não discursou e disse apenas um discreto “sim” na hora da votação.
De certa maneira, alguns deputados aproveitaram a sessão para ajustar contas do passado com Mamãe Falei. O petista Barba lembrou o episódio em que o colega do MBL chamou servidores públicos de “vagabundos” na tribuna. Carteiro Reaça lembrou que Mamãe Falei gostava de apontar o dedo para os demais deputados para passar por “probo”.
Ao falar no final da sessão para se defender, Mamãe Falei não apresentou qualquer ilusão sobre o seu destino, antes da votação: “Vamos ser sinceros aqui, gente. Todo mundo sabe o que está acontecendo aqui. Esse processo de cassação não é pelo que eu disse, é por quem disse, que sou eu. Eu não tenho dúvidas de que vai ser de 10 a zero”.
“A verdade é que todos aqui me odeiam”, concluiu. O mau relacionamento com os demais deputados – causa dos votos pela cassação, na sua opinião – deve-se ao fato de não usar carro oficial, motorista e verba de gabinete.
“Eu não sou como o PT que tem que ser escravo do Lula. Se o Lula vier aqui e mandar vocês defenderem a guerra por causa do imperialismo americano, vocês vão fazer. Se o Bolsonaro mandar os bolsonaristas aqui dizerem que a guerra não é tão ruim assim, vocês vão fazer. Vocês são escravos dessas pessoas”, disse, sobre os colegas.
“A verdade é que não tenho ninguém aqui para por um guarda-chuva quando eu erro e eu errei”, afirmou.
Agora, o relatório do deputado Delegado Olim (PP) será votado pelo plenário da Assembleia Legislativa.
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