Bloomberg Línea — Na agricultura, a compra antecipada de insumos com a promessa de pagamento futuro com a produção que será colhida no futuro é algo corriqueiro. Historicamente, grandes tradings como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus sempre optaram pelo modelo de negócio, visto que havia o interesse delas em ter o produto para comercialização. Com o passar do tempo, as indústrias de fertilizantes e defensivos passaram a adotar o sistema, muitas vezes em triangulações envolvendo as próprias tradings.
Na sequência, vieram os cerealistas e há alguns anos as revendas agropecuárias intensificaram sua presença no modelo de negócios. De olho na valorização dos preços dos grãos, até montadoras de carro passaram a aceitar soja e milho como forma de pagamento e não é incomum encontrar em feiras agropecuárias estandes de corretores de imóveis que buscam vender apartamentos em Balneário Camboriú e aceitam sacas de soja e milho como moeda de pagamento.
No mês passado, a Lavoro, uma das maiores redes de distribuidoras de insumos agrícolas do Brasil e controlada pelo Pátria Investimentos, bateu a marca de R$ 1 bilhão em vendas de produtos, que serão pagos com a soja e o milho da safra 2021/22, colhida neste momento. Sozinha, a operação - chamada de barter - vai responder por cerca de 20% do faturamento do grupo neste ano.
“Temos fomentado esse modelo. Para nós é bom porque o sistema passa a ser uma linha comercial e assim conseguimos fugir da briga de preços pelos produtos. Para o produtor é bom porque ele trava o seu custo de produção e a liquidação da operação é física, ou seja, o agricultor vai entregar o produto em um dos nossos armazéns ou diretamente na trading”, afirma Marcos Oliveira, diretor de operações de commodities da Lavoro.
Com controladores do mercado financeiro, a Lavoro trouxe da Faria Lima alguns instrumentos para incrementar suas operações de barter no agronegócio. Batizada de “operação alvo”, o objetivo é embalar de forma simplificada as operações de hedge dos preços da soja e do milho na bolsa de Chicago e também da B3. Na prática, a Lavoro monta e administra a operação, travando o preço da soja e do milho.
Quando o mercado sobe e há um ágio sobre o valor fixado, de R$ 5 por saca para soja e R$ 3 por saca no caso do milho, a operação se desmonta automaticamente e um crédito é gerado na conta do produtor sobre o volume de grãos comprometido no barter, que pode ser usado em compras futuras.
“Começamos com esse instrumento há seis meses e ainda estamos trabalhando para transformá-lo em um produto, mas, hoje, todos os negócios de barter referente à segunda safra de milho já têm o preço fixado na B3″, explica Oliveira. “O crédito fica na conta que o produtor tem conosco. Não podemos devolver esse valor em dinheiro para ele por questões de regulamentação do Banco Central”, diz.
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