Após decisão do Fed, mercados dos EUA e da Europa recuam com temor de recessão

Títulos soberanos perdem valor nos dois lados do Atlântico diante de riscos mais elevados de recessão com juros mais altos

As variáveis que orientarão os mercados
16 de junio, 2022 | 07:38 AM

Barcelona, Espanha — A maioria dos investidores já dava por certa a alta de 0,75 ponto percentual nos juros dos EUA, previsibilidade que conduziu as bolsas a um fechamento positivo. No entanto, depois de aplicado o maior aumento de taxas nos EUA desde 1994, os mercados se deparam com o choque de realidade: o freio ao consumo via juros levará a economia a uma recessão?

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Os contratos de índice de setembro indexados ao S&P 500 e ao Nasdaq 100 caíam com força. Os operadores deixaram de lado seu otimismo inicial ante as declarações de que o aumento dos juros em grande proporção não será a norma. Agora, os investidores voltam-se às preocupações sobre o impacto do aperto monetário na economia e no preço dos ativos, o que provoca uma queda dos títulos do Tesouro e que o dólar suba pela sexta vez em sete dias. As ações europeias caminhavam para um mínimo de 16 meses e os papéis de empresas chinesas de internet retrocediam nas operações prévias à abertura de Wall Street.

🔎 Buscando pistas nas entrelinhas. O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, tentou amainar os temores de recessão ao ressaltar a força do consumo e do mercado de trabalho. Mas ele deixou claro que o banco central não poupará esforços para esfriar a alta dos preços. Powell sinalizou outra subida dos juros em julho, de 0,50 ponto a 0,75 ponto percentual. E procurou atenuar a dureza da mensagem dizendo que “o aumento de 75 pontos básicos (de ontem) é inusualmente grande” e que não espera que “movimentos desta magnitude sejam comuns”.

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⤵️ Recessão no horizonte? A Wells Fargo prevê uma “recessão leve” a partir de meados de 2023, enquanto a Moody’s Analytics disse que as chances de uma aterrissagem suave são menores, segundo reportou a Bloomberg. Os mercados enfrentam ainda mais turbulência: muitos investidores dizem que os rendimentos de 10 anos do Tesouro dos EUA, uma referência global para os custos de empréstimos, provavelmente subirão para níveis não vistos desde 2010. Esta manhã, os bônus soberanos dos EUA e também da Europa pediam prêmios mais elevados.

🏦 Mais de política monetária. Hoje foi a vez do Banco da Inglaterra de arbitrar sobre o custo do seu dinheiro: aplicou sua quinta alta seguida ao juro, de 0,25 ponto percentual, para 1,25% - a maior taxa em 13 anos. A instituição, que foi dos primeiros grandes bancos centrais a começar a campanha de alta dos juros para debelar a inflação, enviou seu sinal mais forte até agora de que está preparada para desencadear movimentos maiores, se necessário, para domar a inflação. Seis de três membros do BoE votaram pelo aumento desta magnitude, enquanto o restante se inclinou a um acréscimo de 0,50 ponto do juro.

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Também no radar dos investidores está o pronunciamento do vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos. Ele disse estar confiante de que os formuladores de políticas concordarão em um novo instrumento para evitar o pânico no mercado de títulos, uma vez que os custos de empréstimo aumentam pela primeira vez em mais de uma década. O BCE realizou ontem uma reunião de emergência após o alargamento do spread da dívida dos países da zona do euro. O mercado quer saber se haverá novos mecanismos de antifragmentação da dívida do bloco, para compensar o aumento do prêmio de risco de países que são mais vulneráveis a um encarecimento da dívida europeia, como Itália, Grécia, Portugal e Espanha..

✳️ Em tempo, depois da investida do Fed, subiram suas taxas de juros, além do BoE, os bancos centrais de Hong Kong (a terceira subida este ano, desta vez em 0,75 ponto) e da Suíça (+0,50 ponto).

Ressaca pós-Fed
🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrial (+1,00%), S&P 500 (+1,46%), Nasdaq Composite (+2,50%), Stoxx 600 (+1,42%), Ibovespa (+0,73%)

Os investidores saudaram a clareza do Fed em sua batalha contra a maior inflação em décadas e os mercados acionários dos EUA interromperam uma série de perdas. O banco central dos EUA aumentou sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Embora este seja o maior aumento desde 1994, é um movimento que o mercado já estava descontando.

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Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

Feriado no Brasil

EUA: Licenças de Construção/Mai, Vendas de Casas Novas, Pedidos Iniciais de Seguro-Emprego, Índice do Setor Manufatureiro - Fed Filadélfia/Jun

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Europa: Zona Euro (Reunião do Eurogrupo, Custos Trabalhistas e Salários na Zona do Euro); Espanha (Balança Comercial); Alemanha, Reino Unido e França (Emplacamento de Veículos/Mai)

América Latina: Colômbia (Vendas Varejo/Abr, Índice de Produção Industrial - IPI)

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Bancos centrais: Decisão de política monetária do Banco da Inglaterra. Discursos de Luis de Guindos (vice-presidente do BCE), Fabio Panetta (BCE), Joachim Wuermeling (Bundesbank)

📌 Para amanhã:

Sexta-feira: Decisão sobre juros do Banco do Japão. IPC da Zona do Euro. EUA: Índice do Conference Board, Produção Industrial

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.

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