Bloomberg Línea — Já ouviu falar do Íbis Sport Club? Considerado como um grande meme pela sequência histórica de derrotas nos anos 1980, a equipe do interior de Pernambuco criou uma legião de fãs nos últimos anos, que torcem mais para ver o time perder que ganhar, abraçando o estereótipo até no mascote rebatizado de Derrotinha.
A atenção foi tanta que, no último ano, a equipe ganhou um fluxo inesperado de dinheiro após a história chegar aos ouvidos da Betsson - uma das maiores casas de apostas da Europa e que, presente desde 2008 na América Latina, tem agora mais planos na região, além de patrocinar o “pior time do mundo”.
“Essa foi uma estratégia de marketing muito bem colocada”, disse Andrea Rossi, diretor comercial do Sul da Europa e Latam da Betsson, em entrevista à Bloomberg Línea. “Estamos procurando um posicionamento da marca no Brasil, incluindo a aquisição da Suaposta e de outros canais de mercado. Realmente empurrando nossa marca para dentro do país”.
Sediada em Estocolmo e com ações negociadas no mercado de capitais de lá, a empresa adquiriu, em dezembro de 2019, 75% da brasileira Suaposta, mirando na então recém-aprovada legislação que passou a permitir que as apostas online funcionassem no Brasil, desde que administradas por uma companhia do exterior.
A ideia era se aproximar do mercado local e também preparar terreno para uma eventual legalização mais expansiva do setor - o que tem tomado contornos no Congresso brasileiro nestes primeiros meses de 2022.
Como funcionam as apostas online no Brasil
Embora a lei que permite jogos de azar em território nacional ainda não esteja regulamentada, apostas online acontecem através de plataformas sediadas no exterior por conta de uma lei aprovada em 2018 durante o governo do ex-presidente Michel Temer, e complementada em 2021. Modalidades como slots e roleta, além de pôquer, corrida de cavalos e as esportivas, como futebol e basquete, podem funcionar desde que o site seja registrado e licenciado em outro país que permita os jogos.
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Para a Betsson, é questão de tempo antes que os jogos de azar sejam efetivamente legalizados no país, mas a discussão não tem pressa para acontecer.
“No final do dia, as partes interessadas no processo não querem empurrar isso sem o devido cuidado”, disse André Gelfi, sócio-diretor da Betsson no Brasil, na mesma entrevista. “Quanto mais cedo, melhor, desde que seja uma boa regulamentação”.
O projeto de lei (PL) para liberação de apostas no Brasil, aprovado em março pela Câmara dos Deputados, não terá prioridade no Senado, seguindo com uma tramitação normal, segundo o presidente da casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Aprovada com 246 votos a favor e 202 contra, a proposta pretende legalizar jogos de azar no país, incluindo cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas esportivas.
Somente em 2020, esse mercado faturou cerca de R$ 12,5 bilhões, de acordo com um levantamento da H2 Gambling Capital, consultora de jogos e apostas. E isso sem que a tributação tenha parado por aqui.
O que a Betsson quer na América Latina
Com licenças de jogos em 19 jurisdições e 1.900 funcionários, a Betsson registrou receita líquida de SEK 6,67 bilhões (US$ 731,7 milhões) em 2021, um aumento de 4,4% em relação ao ano anterior ajudado pela expansão para novos mercados e aquisições estratégicas, incluindo a parceria com o Casino de Victoria, em Buenos Aires, para a entrada na Argentina.
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A empresa sueca oficializou o início das operações da marca por lá em janeiro deste ano, após receber autorização da Loteria da Cidade de Buenos Aires, o órgão fiscalizador da região. Já agora, em abril, a companhia chegou oficialmente à Colômbia, após a aquisição e integração da plataforma ColBet.
“Na América Latina, há uma grande paixão pelo esporte e por jogos. Miramos nos esportes que as pessoas preferem nos diferentes países, encontramos bons parceiros e entramos com a nossa expertise no mundo digital”, diz Rossi.
O cassino online é a principal fonte de receita da plataforma, com receita totalizando SEK 4,84 bilhões (US$ 512 milhões) em 2021. A receita de apostas esportivas atingiu SEK 1,75 bilhão (US$ 185 milhões), enquanto outras receitas de produtos como pôquer e bingo chegaram a SEK 85,4 milhões (US$ 8,9 milhões).
Apesar das operações da Betsson na região da Europa Central e Oriental e da África terem contribuído com a maior fatia durante o ano (cerca de 30% do total global), a expectativa é que as parcerias com empresas estabelecidas e regularizadas na América Latina abram as portas para um mercado milionário e ainda pouco explorado, principalmente em comparação com o europeu.
No Brasil, por exemplo, a Betsson é a única operadora licenciada de apostas esportivas em turfe, ou corridas de cavalo, em parceria com o Jockey Club do Rio Grande do Sul.
“Nossa visão está no mercado regulado, não no offshore. Acreditamos que a grande fatia do bolo virá com a regulação dos mercados. Temos trabalhado isso em no grupo, e em um futuro próximo, o Brasil pode ser muito maior”, diz Gelfi.
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