Elon Musk no Twitter pode ser uma má notícia para a liberdade de expressão

Musk provavelmente não está nessa pelo dinheiro - o que ele quer é marcar sua posição

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Bloomberg — Elon Musk acabou de comprar uma participação de US$ 3 bilhões no Twitter, porque quando você é o ser humano mais rico do mundo, pode jogar bilhões como se fossem fichas de pôquer.

Esta pode ser apenas mais uma obra de arte performática de Musk, que exerceu enorme efeito sobre o preço do Bitcoin endossando-o e depois menosprezando-o a seu bel-prazer. Ele também usou o Twitter para divulgar altcoins, como o Dogecoin e o Shiba Inu, enquanto simultaneamente alertava os seguidores: “Não aposte a fazenda em criptomoedas!”

“O verdadeiro valor é desenvolver produtos e oferecer serviços a seus semelhantes, não o dinheiro em si”, alertou ele, o que pode ser um conselho fácil de dar quando seu patrimônio líquido é de US$ 273 bilhões, sua empresa de veículos elétricos está crescendo e você pode lançar seus próprios foguetes para o espaço.

Então, talvez devêssemos considerar o investimento de Musk no Twitter como mais do mesmo, do cara que ponderou sobre o sentido da vida enquanto bebia uísque e fumava maconha ao falar em um podcast, e uma vez alegou misteriosamente que tinha “financiamento garantido” para fechar o capital da Tesla. Mas suspeito que haja algo mais sério informando a decisão de Musk de investir no Twitter, mesmo que ele se divirta chamando atenção: talvez ele queira colocar o Twitter sob seu domínio.

Considere a pesquisa que ele realizou (no Twitter, é claro) 10 dias atrás. “A liberdade de expressão é essencial para uma democracia em funcionamento”, disse. “Você acredita que o Twitter adere rigorosamente a esse princípio?” Mais de dois milhões de usuários responderam a essa pergunta, com 70,4% deles votando “não”.

Um dia depois, Musk, que se considera um “absolutista da liberdade de expressão”, estava na plataforma de mídia social novamente: “Dado que o Twitter serve como a praça pública de fato, não aderir aos princípios da liberdade de expressão impacta fundamentalmente a democracia. O que deveria ser feito?” Desta vez ele nem se deu ao trabalho de fazer uma enquete, mas apenas perguntou: “Uma nova plataforma é necessária?”

Tudo isso ocorre depois da batalha - ainda não concluída - de Musk com a Securities and Exchange Commission, que monitora suas postagens no Twitter por um bom motivo: elas movimentam os mercados. Musk sustentou em um processo judicial que a supervisão da SEC parece “calculada para esfriar seu exercício” de liberdade de expressão.

Assim, apesar do amplo espaço para exercitar seu discurso – e tentando agressivamente restringir a liberdade de expressão de alguns de seus críticos – Musk evidentemente se sente ofendido. O que não está claro é a razão do Twitter ser seu alvo.

Seus discursos e elogios no Twitter foram amplos e irrestritos. Certa vez, ele twittou e apagou um meme comparando o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, a Hitler. Ele twittou memes transfóbicos. Ele chamou um explorador de cavernas britânico de “cara pedófilo”. Isso é muita liberdade de expressão, e o Twitter não fez muito para restringi-la.

Uma explicação para a sensibilidade de Musk pode ser encontrada em suas tendências libertárias. Esforços tardios das plataformas de mídia social para restringir algumas das formas mais virulentas de propaganda política levantaram os ânimos dessa multidão (junto com a extrema direita e os trumpistas). Pelo menos agora, Musk disparou contra um alvo, o Twitter, ao comprar 9,2% de suas ações – o que também é muito mais barato do que fazer o mesmo com o Facebook (uma participação de 9,2% na Meta teria lhe custado cerca de US$ 58 bilhões).

Musk quer assumir o Twitter? Acho que não. As finanças da empresa não são ótimas, e administrar empresas de mídia social é complicado. O fracasso que é o experimento de mídia social do ex-presidente Donald Trump, Truth Social, é um bom alerta para Musk. O bilionário quer nomear algumas pessoas para o conselho de administração do Twitter? Pode ser. Isso lhe permitiria ter alguma voz sobre os assuntos que lhe são caros sem gastar muito tempo ou dinheiro.

Isso é preocupante, porque não é ideal ter um absolutista da liberdade de expressão que não seja absolutamente a favor da liberdade de expressão no comando de – ou mesmo perto de – uma empresa de mídia. Musk já recebeu uma bela recompensa por sua participação no Twitter. As ações subiram 26% na segunda-feira (4), depois que seu investimento foi divulgado em um documento regulatório. Ele vai ficar mais tempo, é claro, e especulações de que o Twitter pode estar em jogo vão inflar ainda mais sua participação.

Mas Musk provavelmente não está nessa pelo dinheiro. O que ele quer é marcar posição. E ele também quer assustar a administração do Twitter. Alguém que reclamou que sua liberdade de expressão está sendo “refreada” deveria, talvez, ser sensível a essas nuances. Mas isso indicaria que Musk está mais para filósofo do que para valentão.

Timothy L. O’Brien é colunista sênior da Bloomberg Opinion.

– Esta coluna foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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